quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Israel confronta-se com a sua fragilidade






   Os parcos dividendos da ofensiva contra Gaza lançam as maiores dúvidas sobre a capacidade de Israel poder aventurar-se num ataque unilateral ao Irão sem sofrer um incomensurável desaire.

   Uma semana de bombardeamentos deixou a claro que, salvo uma inviável reocupação de Gaza temida pela própria população judia, Israel não conseguirá eliminar a ameaça dos mísseis do Hamas e de outras organizações islamitas.

   Uma trégua, implicando a suspensão do lançamento de mísseis a troco do aligeiramento do bloqueio imposto por Israel há cinco anos, não poderá obviar ao rearmamento do Hamas e demais organizações palestinianas.

   Os esforços israelitas para destruir redes de contrabando, como, por exemplo, os ataques ocorridos no Sudão, estão condenados ao fracasso dada a situação de insegurança na península do Sinai e o apoio do governo islamita do Cairo aos confrades do Hamas.

  Além da frente sul de Israel, sujeita a ser fustigada por mísseis de fraca precisão, também áreas do centro do país e mesmo Telavive e Jerusalém estão agora na mira de mísseis Fajr 5 de origem iraniana com um alcance de 75 quilómetros.

  A notória melhoria da capacidade do Hamas e da Jihad Islâmica no fabrico, montagem, armazenamento e lançamento de mísseis permitirá recuperar a curto prazo a degradação das suas capacidades ofensivas provocada pela actual investida israelita.

   Os inimigos em Gaza representam uma ameaça tão perigosa e destabilizadora quanto o Hizballah a norte, apesar da segurança relativa oferecida pelo sistema de defesa antimísseis Cúpula de Ferro.

   A constatação de Israel da impossibilidade de desalojar o Hamas fragiliza Mahmoud Abbas que aguarda o reconhecimento pela Assembleia Geral da ONU da Autoridade Palestiniana como estado observador.

   A ameaça de retaliações de Israel e dos Estados Unidos no caso de promoção do estatuto internacional palestiniano -- designadamente através do congelamento de contribuições e financiamentos à ONU e à Autoridade Palestiniana -- contribui para alienar os palestinianos da Cisjordânia que vêem os seus representantes incapazes de obter concessões.

   Nenhum avanço quanto ao estatuto de Jerusalém, o congelamento e desmantelamento de colonatos judaicos, o direito de retorno de refugiados e o controlo de recursos hídricos.

   Neste impasse aumenta o risco da Fatah perder o controlo da Cisjordânia e do ressentimento dos árabes israelitas -- 20% da população do estado hebraico -- extravassar em protestos de rua, enquanto na Jordânia se reforça as exigência dos Irmãos Muçulmanos que reclamam ao Rei Abdullah II o corte de relações com Israel.

   Na frente norte, onde a imponderabilidade da guerra civil na Síria condiciona o Hizballah e priva Israel de um inimigo fiável, o estado hebraico confronta-se com as consequências do fracasso estratégico do confronto de 2006 que consagrou os xiitas libaneses como irredutível força militar.

   A retaguarda israelita apresenta-se, portanto, muito insegura e a população judia acaba de sofrer novo choque psicológico ao ser confrontada com acrescida vulnerabilidade a ataques de mísseis.

   O risco de isolamento diplomático no caso de Israel enveredar por acções militares que resultem em significativas baixas civis entre o inimigo começa também a fazer-se sentir entre uma população que, na ausência de garantias credíveis de segurança, tenderá, no entanto, a votar em forças políticas que rejeitam qualquer compromisso territorial.

   Perdido o contrapeso estratégico que representava a Turquia o isolamento israelita no Médio Oriente é avassalador.

   A conjugação pontual de interesses contra o Irão com as monarquias sunitas do Golfo, o Arzebeijão e alguns grupos curdos não basta para Israel se lançar numa eventual acção militar com ou sem apoio prévio dos Estados Unidos.

   A extrema fragilidade da situação nas conflituosas fronteiras de Israel obriga a uma mobilização total de recursos e riscos generalizados para os civis judeus em caso de guerra com o Irão, nova ronda de confrontos em todas as frentes, e esta realidade só a pouco e pouco começa a ser compreendida.

Jornal de Negócios
21 Novembro 2012

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