segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Um golpe no Mali


Bamako, Março 2012

   Um golpe no Mali é uma daquelas fatalidades que raramente comovem por aí além os patronos dos tempos coloniais, neste caso a França que controlou até ao final dos anos 50 os desertos do norte e as fértis regiões banhadas a sul pelo rio Níger e a leste pelo rio Senegal.

  Outro golpe nem sequer atormenta a maior parte dos poderes africanos.

  Mas, desta vez, é um pouco diferente ainda que de momento o cenário seja trivial: desordem na capital, em Bamako, onde tropas amotinadas emitem comunicados pela televisão e pela rádio, entre saques e pilhagens, enquanto se desconhece o paradeiro do presidente Amadou Touré.

Por sinal estavam marcadas para Abril eleições em que Touré, chegado ao poder num golpe em 1991, se preparava alegadamente para deixar a presidência.

  A diferença neste golpe do Mali é que se estava mesmo à espera que acontecesse: no norte desértico fortalecia-se a revolta dos tuareges.

  O exército do Mali sofria derrota atrás de derrota ante os rebeldes entre os quais se contam muitos mercenários que combateram na guerra civil da Líbia.

  Cada vez mais refugiados dispersavam-se pelos países vizinhos: Mauritânia, Argélia, Níger, Burkina Fasso.

  Nos desertos do norte a subsistência está agora dependente sobretudo de contrabando de drogas e armas, encaminhamento de emigrantes ilegais para as costas do Mediterrâneo, e pouco mais.

 Campeiam bandos que se proclamam fiéis à Al Qaeda ou outros fiéis do radicalismo islamita.

 Um golpe no paupérrimo Mali, que com apenas 16 milhões de habitantes pouco tem de valor económico para mostrar além de exportações de algodão, em princípio nada teria de extraordinário.

 O problema é que desta vez o golpe no Mali é sinal muito claro de que toda uma zona que vai da Argélia ao Senegal, passa por todo o Sahel, na transição entre o Saara e a África das florestas, todas estas regiões mais a ocidente, para não falar do que se passa na África Oriental, estão à beira de um colapso político que nada pode trazer de bom.

 É por isso que o golpe do Mali não caiu na trivial indiferença.

O Mundo num Minuto/TSF
23 Março 2012

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