sexta-feira, 21 de junho de 2013

Guerras por procuração





   Armar a contragosto facções rebeldes para forçar Bashar al Assad a negociar um cessar-fogo e um acordo político que pacifique a Síria é um erro táctico a que Obama se conformou para aplacar pressões intervencionistas em Washington e que acabará por agudizar a guerra civil.

   Só o fornecimento de grandes quantidades de armas, incluindo mísseis anti-aéreos, poderia reforçar significativamente a capacidade militar do "Exército Livre Sírio" sob o comando de Salim Idriss, o general sunita que desertou há um ano e em que Washington aposta.

   Financiar e armar com parcimónia é ineficaz, acarreta custos políticos desproporcionados e mesmo assim o treino de combatentes e o controlo da distribuição de armas obrigará a uma maior presença no terreno de assessores militares e agentes secretos norte-americanos, britânicos e franceses.

   O desvio de armamento para forças indesejáveis aos olhos das potências ocidentais e da Turquia, mas apoiadas pela Arábia Saudita e o Qatar, é inevitável tanto mais que frentes islamitas radicais como "Ahrar al Sham" combatem em aliança ora com outros grupos islamitas do "Exército Livre Sírio", ora com os jihadistas da "Jahabat al Nusra".

   A criação de zonas seguras, sob o pretexto de protecção humanitária, pressupõe a imposição unilateral de zonas de exclusão aérea no Norte, a partir da Turquia, e no Sul, com bases na Jordânia, que darão pretexto à Rússia e ao Irão para aumentar as vendas de armas a Damasco.

   Zonas de exclusão aéreas implicam confrontos directos com forças governamentais muito para além das áreas destinadas a protecção e acarretam riscos de escalada militar regional e internacional.

  A alegada utilização pontual de armas químicas pelas forças fiéis a al Assad, pretexto em Washington, Paris e Londres para apoio militar directo a grupos da oposição, continua, entretanto, a gerar polémica.

   As divergências patentes na cimeira do G8 tornam claro que o confronto com russos e chineses no Conselho de Segurança dificultará uma eventual operação internacional com apoio da ONU caso se revele necessário intervir para neutralizar arsenais de armas químicas.

   Múltiplas e antagónicas forças integram frentes de oposição não-jihadistas – "Coligação Nacional", "Conselho Nacional", "Comité Nacional de Coordenação", "Exército Livre" – sem que ao terceiro ano de guerra tenham acordado um programa político mínimo para negociação com al Assad ou como plataforma de transição no caso de renúncia ou morte do líder alauíta.

   Num país ameaçado pela partilha territorial a entrada em combate ao lado das forças governamentais do "Hizballah" libanês acentuou o cunho étnico-religioso do conflito, seguindo-se a ruptura entre Damasco e o Cairo com o presidente Al Nusri a dar corpo a apelos de líderes dos "Irmãos Muçulmanos" para a criação de uma frente alargada sunita contra os apoiantes xiitas do herético regime alauíta.

   Os recentes ganhos das tropas de al Assad – a captura de Al Qusair consolidou o domínio dos acessos ao Líbano e às regiões costeiras – indiciam novas ofensivas governamentais para controlo das principais cidades, sobretudo de Aleppo, remetendo os opositores para regiões do Norte e Leste do país.

   Um pacto informal de não-agressão com as milícias curdas no nordeste permitirá, eventualmente, neutralizar mais uma ameaça ao regime que conseguiu estancar deserções militares e mobilizar novos contigentes de combate, ante grupos oposicionistas com desigual capacidade de combate e que carecem de coordenação.

   O ascendente militar de al Assad vai a par do temor pelas depredações e ameaças de grupos salafistas jihadistas que é cada vez maior entre as minorias cristã, druza, ismaialita, curda, e motivo de apreensão para muitos sunitas.

   A guerra civil síria é um conflito generalizado em que clivagens políticas são fortemente marcadas pelas identidades étnico-religiosas e vê agora acentuar-se o confronto por procuração.

   Sunitas anti-al Assad, salafistas do universo da jihad, potências ocidentais em busca de aliados ou clientes, confrontam-se com iranianos e russos, ante a não-interferência interessada de Israel apostada na debilitação de um estado rival e a crítica de chineses, indianos ou brasileiros ao unilateralismo intervencionista de Washington.

   Armar a contragosto facções rebeldes para forçar Bashar al Assad a negociar um cessar-fogo e um acordo político que pacifique a Síria é um erro táctico a que Obama se conformou para aplacar pressões intervencionistas em Washington e que acabará por agudizar a guerra civil.

   Só o fornecimento de grandes quantidades de armas, incluindo mísseis anti-aéreos, poderia reforçar significativamente a capacidade militar do "Exército Livre Sírio" sob o comando de Salim Idriss, o general sunita que desertou há um ano e em que Washington aposta.

   Financiar e armar com parcimónia é ineficaz, acarreta custos políticos desproporcionados e mesmo assim o treino de combatentes e o controlo da distribuição de armas obrigará a uma maior presença no terreno de assessores militares e agentes secretos norte-americanos, britânicos e franceses.

  O desvio de armamento para forças indesejáveis aos olhos das potências ocidentais e da Turquia, mas apoiadas pela Arábia Saudita e o Qatar, é inevitável tanto mais que frentes islamitas radicais como "Ahrar al Sham" combatem em aliança ora com outros grupos islamitas do "Exército Livre Sírio", ora com os jihadistas da "Jahabat al Nusra".

   A criação de zonas seguras, sob o pretexto de protecção humanitária, pressupõe a imposição unilateral de zonas de exclusão aérea no Norte, a partir da Turquia, e no Sul, com bases na Jordânia, que darão pretexto à Rússia e ao Irão para aumentar as vendas de armas a Damasco.

  Zonas de exclusão aéreas implicam confrontos directos com forças governamentais muito para além das áreas destinadas a protecção e acarretam riscos de escalada militar regional e internacional.

  A alegada utilização pontual de armas químicas pelas forças fiéis a al Assad, pretexto em Washington, Paris e Londres para apoio militar directo a grupos da oposição, continua, entretanto, a gerar polémica.

  As divergências patentes na cimeira do G8 tornam claro que o confronto com russos e chineses no Conselho de Segurança dificultará uma eventual operação internacional com apoio da ONU caso se revele necessário intervir para neutralizar arsenais de armas químicas.

  Múltiplas e antagónicas forças integram frentes de oposição não-jihadistas – "Coligação Nacional", "Conselho Nacional", "Comité Nacional de Coordenação", "Exército Livre" – sem que ao terceiro ano de guerra tenham acordado um programa político mínimo para negociação com al Assad ou como plataforma de transição no caso de renúncia ou morte do líder alauíta.

  Num país ameaçado pela partilha territorial a entrada em combate ao lado das forças governamentais do "Hizballah" libanês acentuou o cunho étnico-religioso do conflito, seguindo-se a ruptura entre Damasco e o Cairo com o presidente Al Nusri a dar corpo a apelos de líderes dos "Irmãos Muçulmanos" para a criação de uma frente alargada sunita contra os apoiantes xiitas do herético regime alauíta.

  Os recentes ganhos das tropas de al Assad – a captura de Al Qusair consolidou o domínio dos acessos ao Líbano e às regiões costeiras – indiciam novas ofensivas governamentais para controlo das principais cidades, sobretudo de Aleppo, remetendo os opositores para regiões do Norte e Leste do país.

   Um pacto informal de não-agressão com as milícias curdas no nordeste permitirá, eventualmente, neutralizar mais uma ameaça ao regime que conseguiu estancar deserções militares e mobilizar novos contigentes de combate, ante grupos oposicionistas com desigual capacidade de combate e que carecem de coordenação.

   O ascendente militar de al Assad vai a par do temor pelas depredações e ameaças de grupos salafistas jihadistas que é cada vez maior entre as minorias cristã, druza, ismaialita, curda, e motivo de apreensão para muitos sunitas.

   A guerra civil síria é um conflito generalizado em que clivagens políticas são fortemente marcadas pelas identidades étnico-religiosas e vê agora acentuar-se o confronto por procuração.

   Sunitas anti-al Assad, salafistas do universo da jihad, potências ocidentais em busca de aliados ou clientes, confrontam-se com iranianos e russos, ante a não-interferência interessada de Israel apostada na debilitação de um estado rival e a crítica de chineses, indianos ou brasileiros ao unilateralismo intervencionista de Washington.

Jornal de Negócios
19 Junho 2013
http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/joao_carlos_barradas/detalhe/guerras_por_procuracao_na_siria.html#.UcLJnTvtORU.facebook

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