quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A América ensimesmada e incerta





   Mitt Romney saiu presidenciável da ronda de debates e a eleição depende agora da conquista de estados como a Flórida, Virgínia e Ohio onde o republicano se bate taco a taco com Barack Obama.

   No primeiro confronto, a 3 de Outubro, Romney conseguiu impor-se como candidato credível e contrariar uma desvantagem persistente nas sondagens, subindo quatro pontos em média.

   O melhor desempenho de Obama no debate de dia 16 não foi suficiente para desfeitiar as pretensões do republicano que, graças a um empate técnico nas intenções de voto, conseguiu manter em aberto a possibilidade de uma maioria no Colégio Eleitoral.

   Os debates televisivos tornaram-se num facto importante numa votação que será renhida tal como sucedeu em 1960 na disputa entre Richard Nixon e John Kennedy e, de novo, em 2000, com Al Gore e George W. Bush.

   Na derradeira discussão Romney perdeu aos pontos, mas ao optar por uma posição moderada e conciliatória em política externa ultrapassou um do seus óbices principais patente na desastrosa viagem de Julho à Grã-Bretanha, Israel e Polónia.

   Em Boca Raton foi exemplar o modo como a abordagem de diferendos comerciais com a China redundou em polémica sobre criação de emprego no Ohio, investimentos no sector educativo e eventuais vantagens do reforço na pesquisa científica para assegurar a primazia norte-americana.

   A importância que Obama e Romney conferiram à economia doméstica num debate que deveria cobrir as principais questões internacionais acabou por corresponder aos interesses e perplexidades do eleitorado.

   Uma sondagem realizada a 15 e 16 deste mês pela Gallup revelava que a “economia em geral” é a principal preocupação de 37% dos inquiridos, seguida do “desemprego” para 26%.

   Na mesma altura em 2008 “a economia em geral” motivava 47% dos inquiridos e o “desemprego” apenas 3%, mas o contraste é evidente em relação às eleições de 2000, em que predominavam temas não-económicos como a educação, e de 2004 quando as guerras do Afeganistão e do Iraque dominavam as atenções.

   Romney evitou brandir o “machado de guerra” para ganhar credibilidade como estadista, passou a defender a retirada militar do Afeganistão em 2014 e mesmo criticando o rival por alegadamente ter propiciado uma “crescente vaga de caos” no Médio Oriente acabou por concordar no essencial com a política da Casa Branca quanto à Síria, Irão ou Paquistão.

   O debate deixou de lado palestinianos e judeus, a Europa, a Rússia, a Índia, Guantánamo, política ambiental, narcotráfico, migrações e toda uma série de questões de interesse estratégico para os Estados Unidos.

   As diferenças retóricas – Obama privilegiando a busca de alianças e abordagens multilaterais, Romney mais insistente na necessidade de capacitar o país para a projecção de poder a nível global – não conseguiram esconder o facto de que os Estados Unidos contam com opções muito limitadas.

   O próximo presidente não terá maioria no Congresso – é provável que os republicanos dominem a Câmara de Representantes e os democratas o Senado –, sendo difícil avançar com políticas para redução do défice orçamental, da dívida pública e de incentivo ao crescimento económico, seja por via de mobilização de recursos estatais ou reduções de impostos.

   À radicalização política direitista e ultraconservadora entre os republicanos e à dificuldade dos democratas de repetirem a mobilização que levou Obama ao poder cumpre juntar 3% a 8% do eleitorado que ainda se declara indeciso quanto ao voto a 6 de Novembro.

   A participação eleitoral poderá cair abaixo dos 57% registados em 2008 e pôr fim a uma tendência para maior empenhamento que se vinha a notar após o ponto baixo de 1996 – reeleição de Bill Clinton contra Bob Dole – quando apenas 49% do eleitorado votou.

   Agora, depois de 4,4 milhões de votos já terem sido expressos, as contradições de Romney, que sucessivamente alterou posições de princípio, e de Obama, insistindo essencialmente na necessidade de um novo mandato para cumprir promessas adiadas,
o sentido de voto é particulamente incerto.

   Em dez estados a vitória tanto pode pender para Romney como para Obama.

   Os 270 votos do Colégio Eleitoral necessários para a vitória dependem do sentido de voto em estados tão diversos quanto a Flórida (29 mandatos), Ohio (18), Iowa (6) ou Virgínia (13).

   Na bolsa de apostas Intrade, um indicador que desde 2002 merece relevância, Obama liderava na abertura de terça-feira com 59,3% e pode ser que consiga a reeleição, mas estamos no âmbito da aposta e não da conjectura razoável.

Jornal de Negócios

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