sexta-feira, 12 de abril de 2013

Uma epidemia na China





   Uma década passada sobre a erupção da "Síndrome Respiratória Aguda Severa" (SARS) a China confronta-se com novo surto de epidemia aviária, mas as autoridades de Pequim estão desta feita a cooperar com a "Organização Mundial de Saúde" (OMS) para conter a propagação do vírus.

   O H7N9 tinha infectado 24 pessoas, oito das quais morreram, até terça-feira em Xangai e nas províncias de Zhejiang, Jiangsu e Anhui no leste do país.

  O vírus aparenta poder vir a ser transmitido de aves para mamíferos, como porcos, mas não sofreu mutações que propiciem a transmissão entre seres humanos.

  A primeira morte foi assinalada a 7 de Fevereiro, a segunda a 4 de Março, e a informação oficial da "Comissão para a Saúde Nacional e o Planeamento Familiar", entidade sucedânea do "Ministério da Saúde" desde o mês passado, foi divulgada a 31 de Março.

  Ao contrário do ocorrido quando a epidemia da SARS eclodiu no final de 2002 em Guangdong -- a província do Sul com forte concentração de explorações suínas e aviárias adjacente a Macau e Hong Kong -- as autoridades chinesas forneceram a informação disponível à OMS e a países vizinhos, incluindo Taiwan, tendo alertado a população para os riscos sanitários.

  A epidemia irrompeu precisamente quando a "Assembleia Nacional Popular" formalizava a nomeação como chefe de estado de Xi Jinping e coincidiu com um novo escândalo de saúde pública motivado pelo aparecimento de mais de 6 mil porcos mortos no Huangpu, rio que abastece Xangai.

   Tal como sucedeu noutros países atingidos por epidemias, caso da cólera no Peru ou de casos localizados de lepra na Índia nos anos 90, ou, ainda, da encefatopatia espongifrome bovina detectada na segunda metade da década de 80 no Reino Unido, as autoridades chineses mostraram-se muito relutantes em reconhecer a gravidade da SARS.

   A ocultação de informação e a falta de cooperação de Pequim com a OMS, que entre Março e Julho de 2003 conseguiu conter a epidemia, revelaram-se muito prejudiciais para a imagem e respeitabilidade da China.

   Em termos de saúde pública e credibilidade de Pequim, a epidemia da SARS -- que causou 774 mortes (cerca de 10% das pessoas infectadas) na esmagadora maioria na China e na Região Administrativa Especial de Hong Kong, além de prejuízos estimados em 40 mil milhões de dólares – foi o equivalente do Tchernobil soviético, obrigando o regime a adoptar maior abertura no tratamento noticioso em caso de crises sanitárias com repercussões internacionais.

  A presente epidemia levou ao encerramento de mercados aviários nas províncias afectadas, apesar de ainda não terem sido anunciadas medidas de compensação para os produtores, e levou Hong Kong, por exemplo, a introduzir testes veterinários de forma a obstar à importação de aves contaminadas.

  Alguns especialistas alertaram para o risco do H7N9 poder ser facilmente transmissível à imagem da estirpe do vírus aviário H5N1 que desde 2003 infectou mais de 600 pessoas causando a morte de 60% dos contaminados.

  A OMS considera, contudo, que, presentemente, se está longe de uma situação semelhante à das mutações do H1N1 de origem suína que ao mesclar-se com vírus humanos e aviários desencadeou a pandemia de gripe de 2009 responsável por 294 500 mortes.

   Investigações preliminares do Laboratório de Microbiologia Patogénica da "Academia de Ciências" de Pequim indicam que o vírus resulta de uma mistura de estripes encontradas em aves selvagens oriundas do Sul da península coreana e em galinhas e patos da região do delta do rio Yangtze.

   As populações suínas aparentemente não estão infectadas pelo H7N9, mas o vírus ao passar directamente de aves para seres humanos é altamente letal, segundo as informações divulgadas esta semana pelos especialistas chineses.

   Os riscos de alastramento da epidemia são difíceis de avaliar, mas um factor merece desde já ser salientado: pela primeira vez, as autoridades chinesas deram resposta expedita a uma crise sanitária capaz de afectar países vizinhos e enveredaram por uma cooperação plena com a OMS.


Jornal de Negócios
10 Abril 2013

http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/joao_carlos_barradas/detalhe/uma_epidemia_na_china.html

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