sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A Alemanha empanada




   Na pior das conjunturas, o governo de Berlim acaba de entrar em estado pré-comatoso, na sequência dos fracassos eleitorais dos parceiros de coligação. 

   Angela Merkel viu os aliados da União Social Cristã (CSU) perderem a maioria absoluta que detinham na Baviera desde 1962 e o seu Partido Democrata Cristão (CDU) somou mais uma derrota nas eleições autárquicas no estado de Bradenburgo.

   Na Baviera, o recém-formado Eleitores Livres, uma dissidência da CSU, atingiu os 10,2%, os Verdes tiveram 9,4%, os liberais do Partido Democrata Livre (FPD) regressaram ao parlamento após 14 anos de ausência, obtendo 8%, e até o Partido de Esquerda chegou aos 4,5% no estado mais conservador da Alemanha.

   Os 43,4% obtidos pela CSU foram o pior resultado do partido desde 1954.

  A queda de 17,3% dos conservadores bávaros em relação às eleições estaduais de 2003 de nada valeu ao Partido Social-Democrata (SPD).
   Se, há cinco anos, o SPD caíra para os 19,6%, nestas eleições baixou mais um ponto percentual e atingiu o seu nível mais baixo de sempre desde o pós-guerra.

                                   Recriminações e desafios

   A derrocada da CSU levou o primeiro-ministro da Baviera, Günther Beckstein, a recriminar Angela Merkel por ter recusado diversas propostas dos conservadores bávaros, em especial um pacote de reduções fiscais a nível nacional estimado em 28 mil milhões de euros.

    Günther Beckstein terá de negociar uma coligação em Munique com o FPD e o presidente da CSU Erwin Huber, que anunciou a demissão, será muito provavelmente substituído por Horst Seehofer, ministro da Agricultura e Protecção ao Consumidor no executivo de Merkel.

   Seehofer, um dos dois representantes da CSU entre os 15 ministros de Merkel, terá, no entanto, pela frente, a tarefa difícil de relançar um partido que ainda não recuperou da demissão de Edmund Stoiber em Janeiro do ano passado, após liderar durante 14 anos os conservadores bávaros.

   Apesar de Seehofer não ter enveredado até agora por críticas sistemáticas a Merkel, ao contrário de Beckstein, é de esperar que suba a parada contra a chanceler para ganhar espaço para a CSU.

   Os conservadores bávaros têm menos de um ano até às eleições federais de 2009 para aumentar a sua quota nas intenções de voto.

   Se a CSU cair abaixo dos 7% conseguidos na eleição de Setembro nacional de 2005, as possibilidades dos conservadores obterem uma maioria relativa e de Merkel conservar-se à frente do executivo de Berlim serão bastante remotas.

   Merkel confronta-se com as críticas dos seus rivais no partido, muito em particular do primeiro-ministro da Baixa Saxónia Christian Wulff, que acusa a chanceler de ceder em demasia aos parceiros sociais-democratas.

   A antiga protegida Helmut Kohl nunca foi muito querida entre os líderes democratas-cristãos e enfrentou sempre a oposição dos bávaros liderados por Edmund Stoiber, a que se seguiram críticas públicas do duo Huber-Beckstein.

   Ninguém esquece a sua péssima campanha eleitoral de 2005.

   Merkel, apesar de uma taxa de popularidade pessoal inferior ao então chanceler Gerhard Schröder, começou a campanha com as sondagens sobre intenções de voto a darem uma vantagem de 21 pontos à CDU-CSU e acabou por alcançar uma vitória à tangente, com 35% contra 34% do SPD.

                                 Uma coligação paralisada

   A coligação a que se viram obrigados conservadores e sociais-democratas arrasta-se penosamente em Berlim, e Merkel tem agora problemas acrescidos, com a diminuição do peso dos conservadores no Bundesrat, a câmara alta que representa os 16 estados.

   A possibilidade da CSU não vir a conseguir os 5% a nível nacional necessários para obter representação no Parlamento Europeu nas eleições de Junho de 2009 é outra contingência bem presente.

   Uma ruptura da coligação não está, de momento, em perspectiva, dada a situação igualmente delicada do SPD.

   A chegada à liderança de Frank-Walter Steinmeier, no início de Setembro, não desanuviou o panorama para os sociais-democratas.

   O antigo chefe de gabinete de Schröder, e ministro dos negócios estrangeiros desde 2005, está à frente de um partido ainda mais dividido do que os conservadores e que viu sucederem-se três líderes em três anos.

   O SPD tem perdido votos, em sucessivas eleições, para os Verdes e o Partido de Esquerda, e as expectativas de Steinmeier, vice-chanceler desde Novembro do ano passado, conseguir impor-se frente aos conservadores são escassas. Só a hipótese de um colapso da CSU anima as esperanças de Steinmeier.

   O previsível afundamento eleitoral simultâneo do SPD e da CDU-CSU nas eleições de 2009 e a perspectiva de negociação de possíveis coligações com os demais partidos com representação acrescida no Bundestag condicionam todos os cálculos políticos e paralisam o governo de Berlim.

   A cautelosa política fiscal negociada entre Merkel e Steinmeier é contestada pelos rivais nos respectivos partidos e pela CSU.

   A confirmar-se a quebra nas exportações alemãs (3,4% no primeiro semestre) devido ao abrandamento económico generalizado, as previsões do governo de Berlim de um crescimento de 1,7% este ano arriscam não ter melhor sorte do que a já abandonada meta de 1,2% para 2009.

   As negociações salariais deste Outono vão pôr à prova a coligação, mas uma ruptura entre Merkel e Steinmeier só deverá surgir no caso da contestação interna na CDU e no SPD atingir níveis intoleráveis.

   Aliás, os actuais líderes dos democratas-cristãos e dos sociais-democratas reconhecem que no próximo Outono bem podem encontrar-se de novo a negociar uma Grande Coligação.

02 Outubro 2008
Jornal de Negócios

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