sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Um Nobel da Paz por declaração de intenções


   Um Nobel da Paz por declarações de intenção, é o mínimo que se pode dizer da decisão do Comité de Oslo.

   Obama terá criado um novo clima na política internacional.

   O presidente que ainda nem cumpriu um ano de mandato terá mostrado o seu empenho num mundo sem armas nucleares, advoga o reforço da diplomacia multilateral, o diálogo e negociações, dá atenção particular à democracia e aos direitos humanos, manifesta preocupação pelos efeitos das alterações climáticas.

   Obama é o oposto de Bush e a sua agenda política vale um Nobel.

   É a justificação do Comité de Oslo. É, pelo menos, prematura tamanha distinção.

  Quando noutras ocasiões recentes o Nobel foi para políticos com responsabilidades executivas tais premiados tinham já algo para mostrar.

   Frederik de Klerk e Nelson Mandela em 1993 tinham feito avançar o processo de desmantelamento pacífico do apartheid na África do Sul.

  No ano seguinte, em 1994, Shimon Peres, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat estavam empenhados num processo negocial que poderia ou não vir a resultar. Compreende-se o prémio como uma tentativa de apoio a um esforço que, afinal, acabou num fracasso.

  Mikhail Gorbatchov ao receber o Nobel da Paz em 1990 tinha já cumprido uma missão histórica. Restava-lhe só um ano como presidente de uma União Soviética que iria desaparecer, mas muito fizera pelo fim da Guerra Fria.

   Agora, no caso de Barack Obama é caso para dizer que ainda mal se fez ao caminho.

   Além disso, premiar o chefe de estado de uma superpotência com interesses contraditórios em processos negociais por todo o globo é altamente problemático.

   Obama propõe-se reduzir os arsenais nucleares das grandes potências e reforçar o regime de não-proliferação, mas essas negociações mal começaram e basta lembrar que também Ronald Reagan propõs o mesmo a Gorbatchov em 1986.
   
    Para a Cimeira de Copenhaga do próximo mês de Dezembro ainda se falta saber o que vai, de facto, propor  Washington em matéria de combate ao aquecimento global, que concessões farão, que condições tem Obama nos Estados Unidos para avançar com cortes significativos nas emissões de gases com efeito de estufa.

  Quanto a Guantánamo não será sequer no prazo apontado, no final do ano, que se resolverá o destino dos presos e mais difícil ainda é prever o que possa vir a acontecer no Afeganistão, no Iraque.

  É incerto também o que resultará dos diferendos sobre os projectos nucleares do Irão e da Coreia do Norte.

  Em suma, por melhores que sejam as intenções de Barack Obama, por mais que se leve à letra as suas declarações, é prematuro, muito prematuro, atribuir-lhe um Nobel da Paz. 

TSF / O Mundo num Minuto
9 Outubro 2009   

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