Beirute, 14 Fevereiro 2005
Bashar Al Assad terá de permitir o interrogatório no estrangeiro do seu irmão Maher, comandante da guarda presidencial, e do cunhado Assef Shawkat, chefe dos serviços secretos militares, por suspeita de terem orquestrado o assassínio do antigo chefe de governo do Líbano, Rafic Hariri, em Fevereiro, sob pena da Síria ser submetida a sanções internacionais.
A investigação da comissão da ONU, presidida pelo juiz alemão Detlev Mehlis, conduzirá à inculpação de altos dirigentes sírios e Bashar cometerá suicídio político se ousar sequer admitir a hipótese de eventual julgamento dos seus próximos.
Líder fragilizado pela retirada do Líbano, Bashar terá bem presente o cadastro familiar. Em 1984, o seu tio Rifaat tentou derrubar Hafez Al Assad, há cinco anos Maher baleou Shawkat, e as rivalidades no clã podem levar a história a repetir-se.
A pressão internacional sobre o presidente, liderada pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, visa, ainda, obrigá-lo a cessar as acções dos seus serviços de informação no Líbano, cortar o apoio ao Hizballah, à Jihad Islâmica e à Frente Popular para a Libertação da Palestina no país dos cedros e por termo ao apoio a insurrectos e terroristas no Iraque a partir de território sírio.
Na impossibilidade de acatar as exigências, Damasco acabará por ser submetida a sanções no final do ano.
Se a União Europeia aceder à imposição de sanções económicas significativas a sobrevivência do regime será difícil, apesar da fraqueza das oposições, mas todos guardam memória e acalentam vingança pelas matanças de 1982 depois da insurreição islamita na cidade de Hama.
A minoria alauíta (12 por cento da população face a 74 por cento de sunitas, contando-se, ainda, curdos e arménios entre os 28 milhões de habitantes do país) vai ser posta em causa após quatro décadas no poder e a destabilização da Síria será um dado adquirido com efeitos nefastos sobre o Líbano e o Iraque.
As tribulações da Síria reforçam os dirigentes do Irão, o derradeiro aliado de Damasco, nas suas convicções de que um programa nuclear militar é essencial para preservar o regime e fazer frente aos Estados Unidos e Israel.
A crise síria implica com a crise nuclear iraniana.
Jornal de Negócios
26 Outubro 2005
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