domingo, 16 de setembro de 2012

Terrorismo Olímpico





    Há sete anos, Tony Blair regozijava-se com a atribuição a Londres dos Jogos da XXX Olimpíada, mas na manhã seguinte, 7 de Julho, quatro bombistas suicidas atacavam o sistema de transportes da capital provocando 52 mortos e mais de 700 feridos.

   Nestes Jogos de Verão paira sobre Londres o espectro dos atentados perpetrados por três islamistas de origem paquistanesa e jamaicana, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos, e criados em Inglaterra.

   Da Conspiração da Pólvora, de 1605, para fazer explodir a Casa dos Lordes e matar o rei Jaime I, aos ataques do IRA Provisório, entre 1973 e 1997, Londres tem uma longa história de atribulações terroristas e retaliações governamentais, mas estas Olimpíadas batem recordes de preocupações securitárias.

   A magnitude dos atentados da Al Qaeda contra os Estados Unidos, em 2001, acarretou o reforço de medidas de segurança e legislação securitária e nos Jogos Olímpicos de Atenas e Pequim, ainda que sob regimes políticos diversos, os custos de protecção de pessoas e bens dispararam.

   Nas Olimpíadas gregas a factura de segurança terá rondado 1,24 mil milhões de euros e em Londres essas despesas deverão duplicar, correspondendo a 15% ou 20% dos custos totais.

   A candidatura de Londres foi apresentada como um projecto de baixo custo (2,37 mil milhões de libras/3,02 mil milhões de euros), capaz de reabilitar zonas degradadas do "East End", e destinado a projectar uma imagem de cidade aberta e inovadora.

   Os custos para o erário público ascendem, no entanto, a 11 mil milhões de libras, segundo apurou uma comissão parlamentar, sendo altamente duvidoso um retorno positivo deste investimento.

   Além do previsível congestionamento do sistema de transportes público e da circulação rodoviária, ferroviária e aérea, o terrorismo representa a principal ameaça a "Londres 2012", de acordo com a estimativa oficial de riscos que contempla ainda actos de violência ligados ao crime organizado ou a extremistas britânicos, alterações da ordem pública, acidentes e desastres naturais.

    A hipermediatização dos Jogos Olímpicos, em crescendo desde as emissões televisivas de Roma em 1960 para 21 países, transforma o evento num pólo de atracção para acções de propaganda oficial e contra-propaganda, actos de protesto pacífico e atentados terroristas.

   O historial terrorista das Olimpíadas resume-se, contudo, ao assassinato de onze atletas e treinadores israelitas por um comando palestiniano do "Setembro Negro" em Munique, em 1972, e à morte de dois espectadores em Atlanta, em 1996, na explosão de uma bomba colocada por um extremista de direita em protesto contra o "socialismo global".

   O "Comité Olímpico Internacional", por sua vez, só a partir de 2004 passou a subscrever apólices de seguro contra o cancelamento parcial ou total dos eventos desportivos devido a actos de terrorismo.

   Os Jogos de Londres vão decorrer sob o risco de atentado terrorista "muito provável", na terminologia oficial, a que acresce o alojamento de participantes e a realização de grande número de eventos desportivos numa zona do leste da cidade caracterizada por altas taxas de criminalidade.

   Os exercícios com mísseis anti-aéreos em parques, nos terraços e telhados de edifícios públicos e residenciais foram apenas um dos mais perturbantes episódios das vastas medidas de segurança em curso e evidenciam o temor a atentados.

   De "lobos solitários" de extrema-direita a acções coordenadas por organizações islamitas terroristas da Somália, Iémen ou Paquistão a lista de potenciais atacantes é extensa, mas o maior risco advém do confronto entre Israel e o Irão.

   Após o atentado na semana passada em Burgas, que provocou a morte a cinco turistas israelitas e a um motorista búlgaro, a polícia de Nova Iorque fez chegar aos "media" um estudo indicando que os "Guardas Revolucionários" do Irão ou seus agentes teriam estado envolvidos em nove tentativas de ataques a alvos judeus na Bulgária, Tailândia, Índia, Quénia, Geórgia, Arzebeijão e Chipre.

   O porta-voz do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acusou, por seu turno, agentes iranianos e do "Hizballah" libanês de envolvimento directo em 20 ataques terroristas contra israelitas no estrangeiro ocorridos no último ano.

   Qualquer atentado em Londres que possa ser atribuído, justificadamente ou não, a agentes a soldo de Teerão será um passo mais no caminho da guerra aberta entre Israel e o Irão com inevitável envolvimento norte-americano.


  
Jornal de Negócios
25 Julho 2012

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