domingo, 9 de setembro de 2012
Hatoyama - Tiro e queda
A política por vezes tem destas coisas e a Hatoyama foi um ar que lhe deu num instantinho.
Yukio Hatoyama chegou a primeiro ministro do Japão em Agosto do ano passado com um vitória eleitoral histórica.
O Partido Democrático desalojava do poder os democratas-liberais, o grande bloco conservador que durante meio século tinha governado o Japão.
Hatoyama prometia reformas de fundo num Japão, a segunda maior economia do mundo, atolado numa crise há duas décadas.
Uma economia estagnada, a pior dívida pública dos países desenvolvidos, uma quebra demográfica acentuadíssima: 127 milhões de japoneses habitam o arquipélago, mas em meados deste século nem chegarão a 90 milhões.
Foi por muito pouco tempo que brilhou nova promessa de reforma.
Com uma taxa de aprovação acima dos 70 por cento Hatoyama e o seu Partido Democrático, uma mescla de dissidentes conservadores, centristas e socialistas, prometeram inaugurar uma nova era política, só que falharam em toda a linha.
Escândalos de financiamentos partidários ilícitos, tal e qual os antecessores do partido liberal democrático, puseram logo em causa a probidade dos reformadores.
Muito pior, num erro crasso Hatoyama prometeu encerrar a maior base militar norte-americana no Japão. A base na ilha de Okinawa com mais de 30 mil militares norte-americanos. Falhou a negociação com os estados unidos e o destino ficou selado: a taxa de aprovação do chefe de governo caiu a pique e só lhe restou demitir-se.
Foi assim que hoje (2 Junho 2010) o Japão viu cair mais um primeiro-ministro.
Quatro chefes de governo em quatro anos e sexta-feira (4 de Junho) outro entrará na calha.
Os democratas, com a maioria que têm na Câmara Baixa do parlamento de Tóquio continuarão a governar mesmo que percam as eleições para o Senado em Julho, mas o Japão para já viu finar-se mais uma promessa de reforma política e económica.
Junte-se-lhe a crise da Toyota que se vê obrigada a retirar carros com defeitos nos mercados internacionais, some-se-lhe a falta de iniciativa diplomática, e o Japão dos nossos dias é uma sombra do passado recente.
Ainda há bem pouco tempo, ainda no princípio dos anos 90, corriam temores espantosos sobre o poder avassalador do Japão.
Compravam tudo, quadros de Van Gogh, tinham as maiores multinacionais do mundo, o yene valia ouro.
Filmes uns atrás dos outros, montes de livros, celebravam a era do domínio do Japão. Hoje ouve-se o mesmo em relação à China, algo menos quanto à Índia.
Por certo a ascensão de potências da Ásia é uma realidade a par do declínio relativo dos Estados Unidos e sobretudo da Europa. Mas algumas ascenções irresistíveis nunca são bem o que aparentam. Nem a chinesa é o que se ouve por aí, nem a japonesa conseguiu esconder graves problemas de fundo.
A queda brusca de Hatoyama, está aí a provar como é difícil uma política de reformas em tempos difíceis e logo na segunda maior economica do mundo.
TSF / O Mundo num Minuto
02 Junho 2010
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