domingo, 9 de setembro de 2012

A guerra em busca de cobertura política

Chairman of U.S. Joint Chiefs of Staff, Adm. Mike Mullen, centre, Israel's Defence Minister Ehud Barak, left, and Israeli military chief, Lt. Gen. Gabi Ashkenazi, right, meet in Tel Aviv, Israel, Monday, Dec. 10, 2007. Mullen arrived in Israel on Sunday, as a guest of the Israel Defence Forces.
Chairman of U.S. Joint Chiefs of Staff, Adm. Mike Mullen, centre, Israel's Defence Minister Ehud Barak, left,
and Israeli military chief, Lt. Gen. Gabi Ashkenazi, right, meet in Tel Aviv, Israel, Monday, Dec. 10, 2007
                     
 
 
   O almirante Mike Mullen, chefe do estado-maior conjunto das forças armadas dos Estados Unidos, vetou um ataque de Israel ao Irão até a próxima administração de Washington formular uma estratégia para o Médio Oriente.
 
   A oposição do Pentágono foi expressa durante uma visita de Mullen a Israel no final de Junho depois das manobras conjuntas das forças aéreas de Telavive e de Atenas no Mediterrâneo oriental para testar a capacidade operacional israelita de desencadear acções ofensivas a longo distância.

   A opção dos comandos militares norte-americanos e da administração Bush passa, presentemente, pela via negocial e o aumento da pressão sobre Teerão através de sanções comerciais e financeiras.

   Até meados de Março, altura em que a próxima administração norte-americana estará plenamente operacional, a possibilidade de um confronto militar com o Irão está posta de lado, salvo alguma ocorrência excepcional e independentemente de declarações provocatórias vindas de Teerão por ocasião do 30º aniversário da Revolução Islâmica em Fevereiro.

                                      O impasse israelita

   O veto norte-americano cria uma situação delicada a Israel.

   A maior parte dos decisores políticos e militares israelitas rejeita a ideia de que o programa militar nuclear iraniano vise a obtenção de uma capacidade de dissuasão de último recurso contra ameaças externas.

    As análises do Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Telavive, considerando que a motivação iraniana para desenvolver um programa nuclear clandestino derivou da ameaça do Iraque de Saddam Hussein e do perigo que os Estados Unidos representam à soberania e ambições regionais do Irão, foram consideradas infundadas.

    As estimativas de existência de risco mínimo de transferência para grupos terroristas de armamento nuclear ou de materiais radioactivos para produção de uma “bomba suja”, aventadas no estudo publicado no ano passado em Telavive, são igualmente rejeitadas pelos decisores israelitas.

   Em Israel a possibilidade do Irão se dotar de capacidade militar nuclear, ainda que mínima, é encarada como uma alteração radical das relações de força e uma ameaça à existência do estado judaico que não tem dimensão territorial para sustentar as perdas provocadas por um potencial ataque.

   O monopólio nuclear de Israel no Médio Oriente ficaria comprometido e o novo estatuto iraniano implicaria a busca de meios equivalentes por parte de estados como a Turquia, o Egipto ou a Arábia Saudita.

   As estimativas israelitas, assumindo o pior cenário possível, apontam, ainda, para a obtenção de capacidade militar nuclear por parte do Irão (’stocks’ de urânio enriquecido e miniaturização de ogivas) no prazo de dois anos.

   Um ataque israelita visando as estruturas envolvidas no programa nuclear e, eventualmente, instalações militares e petrolíferas implicaria a cooperação dos Estados Unidos.

   O lançamento de mísseis de longo alcance da classe Jericó, o recurso aos três submarinos Dolphin ao dispor de Israel, as sucessivas vagas de bombardeamentos de caças F 15 e F 16, obrigam a autorização dos Estados Unidos que controlam o espaço aéreo do Iraque e mantém a Quinta Esquadra, baseada no Bahrain.

   Um ataque, que teria de se prolongar por vários dias, poderia na melhor das hipóteses destruir parte das instalações nucleares dispersas por todo o Irão e matar quadros técnicos essenciais ao projecto militar de Teerão.

   A questão política essencial agravar-se-ia, no entanto, pois um Irão sujeito a um ataque massivo optaria a prazo, independentemente das opções ideológicas dos seus dirigentes, por dotar-se de garantias de segurança que passam necessariamente por meios militares nucleares.

   Israel, ainda que recorra exclusivamente a meios convencionais, está manietada pela presença militar norte-americana no Golfo Pérsico.

                                 Os dilemas do sucessor de Bush
   Washington mesmo que não participasse directamente num ataque pagaria o preço de uma acção militar israelita, alegadamente unilateral, e a retaliação iraniana contra a navegação comercial no Golfo Pérsico obrigaria à intervenção da Quinta Esquadra.

   O próximo presidente norte-americano terá de tomar logo no início do mandato uma série de decisões vitais.

    Primeiro, será necessário avaliar se a imposição de sanções é suficiente para impedir a nuclearização militar do Irão.

   O eventual fornecimento ao Irão de sistemas de mísseis anti-aéreos S-300 por parte da Rússia poderá revelar-se igualmente crucial para aferir a viabilidade de isolamento diplomático de Teerão.

   Em segundo lugar, a situação política no Irão, após as eleições presidenciais de Maio, deverá fornecer dados sobre as possibilidades negociais, ainda que a determinação iraniana em obter capacidade de dissuasão nuclear dificilmente possa ser posta em causa.

   Por fim, ante o provável fracasso do recurso a sanções e negociações, o sucessor de Bush terá de considerar se a mais que provável obtenção de capacidade nuclear militar por parte de Teerão é, de facto, casus belli.

   A alternativa de oferta, por parte dos Estados Unidos, de um “chapéu nuclear” através de garantias formais e públicas de segurança aos estados da região, implicando uma retaliação não convencional em caso de ataque iraniano, dificilmente será crível e, consequentemente, revelar-se-á insuficiente para impedir uma escalada ‘armamentista’ e o colapso do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

                             Um ataque com garantias políticas
   Uma operação militar exclusivamente norte-americana contra as instalações nucleares do Irão, sem apoio do Conselho de Segurança da ONU, poderá reduzir significativamente as capacidades do Irão retomar um programa militar, mas deixará em aberto a questão política de desnuclearização do Golfo Pérsico.

   A ponderação dos custos de destabilização generalizada do Líbano ao Afeganistão, passando pelo Iraque, e da interrupção e redução de fornecimentos petrolíferos acaba por estar subordinada às possíveis vantagens que apresente uma efectiva neutralização nuclear do Irão.

   Os riscos de escalada militar poderão ser contidos, mas, mesmo no melhor dos cenários possíveis, a questão política nunca terá solução sem o concurso da Rússia e da China para um compromisso regional que não poderá deixar de lado um acordo de paz entre Israel e um estado palestiniano.

    Os custos de uma acção militar de Washington sem ter assegurado com os estados aliados, a Rússia e a China os termos de um compromisso regional para desnuclearizar parcialmente o Médio Oriente, mantendo o arsenal israelita, são demasiado pesados e imprevisíveis.

   Estes dilemas vão condicionar os passos do sucessor de Bush e do lado de Israel, considerando o pior cenário possível que para Telavive passa pela eleição de Barack Obama, vai aumentar a pressão política e diplomática para forçar um ataque ao Irão.

   Um ataque norte-americano, que não envolva Israel, necessita de uma cobertura política que terá de começar a ser negociada logo nos primeiros dias do mandato do sucessor de Bush.


Jornal de Negócios
09 Julho 2008

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