No País Basco, apesar da actual fragilidade do aparelho terrorista da ETA, não deixa de ser significativa a persistência de um núcleo duro de apoiantes do separatismo pela via do terrorismo.
Os triunfos do Partido Socialista Operário Espanhol na Catalunha e no País Basco deram a maioria a José Luis Zapatero, mas limitam a partir de agora novas concessões aos nacionalistas.
A sete deputados da maioria absoluta os socialistas têm em aberto várias hipóteses para acordos de legislatura.
A Izquierda Unida, reduzida a 2 deputados, os regionalistas galegos e canários (2 mandatos cada), o voto da ex-eurodeputada socialista Rosa Díez, líder do recém-fundado Unión Progreso y Democracia, ou mesmo outro mandato solitário do bloco navarro Nafarroa Bai, entrarão nos cálculos pontuais de Zapatero.
Os socialistas, acautelando a coligação em Barcelona com a Esquerra Republicana de Catalunya (cuja representação caiu de 8 para 3 deputados nas Cortes de Madrid), terão, no entanto de negociar algum acordo político com os nacionalistas catalães da Convergència i Unió que passou de 10 para 11 mandatos.
Um dos factores que Zapatero terá em conta é o aumento da votação do Partido Popular em Madrid, Andaluzia ou Valência onde se fez sentir a rejeição a novas concessões aos nacionalistas bascos e catalães.
A renegociação do Estatuto da Catalunha, após decisão do Tribunal Constitucional sobre a legalidade de várias disposições aprovadas no referendo catalão de 2006, é uma das prioridades do governo socialista, mas na frente basca impedir a convocação de um referendo sobre a independência é outro imperativo urgente.
A singularidade do País Basco
No País Basco os socialistas conseguiram 38 por cento dos votos, venceram nas três províncias e obtiveram o melhor resultado desde 1993. Os conservadores também aumentaram a sua votação e chegaram aos 19 por cento. O Partido Nacionalista Basco, por sua vez, caiu para 28 por cento. Ficou com cerca de 300 mil votos; perdeu 118 mil eleitores.
As consequências são relevantes: desde já estão em risco os planos do líder nacionalista Juan José Ibarretxte para convocar uma “consulta à sociedade basca” em Outubro, como primeira etapa para um referendo independentista em 2010.
Para o lendakari a derrota de domingo torna muito mais difícil levar avante o referendo sobre a independência a que se opõem socialistas e conservadores. Ibarretxte terá ainda de desistir de convocar eleições autonómicas antes do prazo legal de Abril de 2009 para estancar as perdas entre o eleitorado nacionalista moderado.
Mas no País Basco onde as eleições são sempre bem diferentes e marcadas pela violência terrorista registou-se igualmente uma abstenção de imensa importância política.
A participação eleitoral cifrou-se em 75 por cento no conjunto da Espanha, mas no País Basco quedou-se pelos 65 por cento. Um bloco importante entre quase um milhão e 800 mil eleitores do país Basco mantém-se firme no apoio aos separatistas.
Os apoiantes da ETA tinham apelado ao voto nulo em 2004, após a ilegalização do Batasuna. A palavra de ordem separatista foi acatada por 7,6 por cento do eleitorado basco.
Nas eleições municipais e autonómicas de Maio do ano passado repetiu-se o apelo ao voto nulo e 8,3 por cento do eleitorado seguiu a orientação separatista na órbita da ETA.
Este domingo, com o Partido Comunista de las Tierras Vascas e a Acción Nacionalista Vasca proibidos de participar nas eleições, os separatistas bascos apelaram à abstenção. O aumento de 10 por cento na abstenção no País Basco (chegando a cifrar-se em 41 por cento na Guipúzcoa) em relação às eleições de 2004 e o valor residual do voto nulo (1 por cento) indicam que mais uma vez foi seguida a palavra de ordem etarra.
Ou seja, separatistas apoiantes da ETA e separatistas da chamada esquerda abertzale independentista do País Basco continuam a representar entre 8 a 12 por cento do eleitorado. Temos aqui pelo menos 120 mil eleitores.
Sem consenso para o País Basco
Apesar da vitória de José Luis Zapatero os 40 por cento obtidos pelo Partido Popular indiciam a hipótese de os conservadores puderem vir a prosseguir a estratégia de confronto mesmo que Mariano Rajoy venha a afastar-se.
A persistir a tensão entre os dois grandes partidos espanhóis num cenário de bipolarização em que socialistas e conservadores congregam 84 por cento dos votos mais difícil será chegar a um acordo nacional para renegociar os estatutos do País Basco e da Catalunha.
No caso do País Basco a ETA verá no triunfo do PSOE e do PP a expensas dos nacionalistas moderados nova oportunidade para forçar uma radicalização, apesar da actual fragilidade do seu aparelho terrorista.
Para já começou a guerra de propaganda do irredentistimo nacionalista, pois não deixa de ser significativa a persistência de um núcleo duro de apoiantes do separatismo basco pela via do terrorismo.
Jornal de Negócios
12 Março 2008
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?id=313207&template=SHOWNEWS_V2
A Izquierda Unida, reduzida a 2 deputados, os regionalistas galegos e canários (2 mandatos cada), o voto da ex-eurodeputada socialista Rosa Díez, líder do recém-fundado Unión Progreso y Democracia, ou mesmo outro mandato solitário do bloco navarro Nafarroa Bai, entrarão nos cálculos pontuais de Zapatero.
Os socialistas, acautelando a coligação em Barcelona com a Esquerra Republicana de Catalunya (cuja representação caiu de 8 para 3 deputados nas Cortes de Madrid), terão, no entanto de negociar algum acordo político com os nacionalistas catalães da Convergència i Unió que passou de 10 para 11 mandatos.
Um dos factores que Zapatero terá em conta é o aumento da votação do Partido Popular em Madrid, Andaluzia ou Valência onde se fez sentir a rejeição a novas concessões aos nacionalistas bascos e catalães.
A renegociação do Estatuto da Catalunha, após decisão do Tribunal Constitucional sobre a legalidade de várias disposições aprovadas no referendo catalão de 2006, é uma das prioridades do governo socialista, mas na frente basca impedir a convocação de um referendo sobre a independência é outro imperativo urgente.
A singularidade do País Basco
No País Basco os socialistas conseguiram 38 por cento dos votos, venceram nas três províncias e obtiveram o melhor resultado desde 1993. Os conservadores também aumentaram a sua votação e chegaram aos 19 por cento. O Partido Nacionalista Basco, por sua vez, caiu para 28 por cento. Ficou com cerca de 300 mil votos; perdeu 118 mil eleitores.
As consequências são relevantes: desde já estão em risco os planos do líder nacionalista Juan José Ibarretxte para convocar uma “consulta à sociedade basca” em Outubro, como primeira etapa para um referendo independentista em 2010.
Para o lendakari a derrota de domingo torna muito mais difícil levar avante o referendo sobre a independência a que se opõem socialistas e conservadores. Ibarretxte terá ainda de desistir de convocar eleições autonómicas antes do prazo legal de Abril de 2009 para estancar as perdas entre o eleitorado nacionalista moderado.
Mas no País Basco onde as eleições são sempre bem diferentes e marcadas pela violência terrorista registou-se igualmente uma abstenção de imensa importância política.
A participação eleitoral cifrou-se em 75 por cento no conjunto da Espanha, mas no País Basco quedou-se pelos 65 por cento. Um bloco importante entre quase um milhão e 800 mil eleitores do país Basco mantém-se firme no apoio aos separatistas.
Os apoiantes da ETA tinham apelado ao voto nulo em 2004, após a ilegalização do Batasuna. A palavra de ordem separatista foi acatada por 7,6 por cento do eleitorado basco.
Nas eleições municipais e autonómicas de Maio do ano passado repetiu-se o apelo ao voto nulo e 8,3 por cento do eleitorado seguiu a orientação separatista na órbita da ETA.
Este domingo, com o Partido Comunista de las Tierras Vascas e a Acción Nacionalista Vasca proibidos de participar nas eleições, os separatistas bascos apelaram à abstenção. O aumento de 10 por cento na abstenção no País Basco (chegando a cifrar-se em 41 por cento na Guipúzcoa) em relação às eleições de 2004 e o valor residual do voto nulo (1 por cento) indicam que mais uma vez foi seguida a palavra de ordem etarra.
Ou seja, separatistas apoiantes da ETA e separatistas da chamada esquerda abertzale independentista do País Basco continuam a representar entre 8 a 12 por cento do eleitorado. Temos aqui pelo menos 120 mil eleitores.
Sem consenso para o País Basco
Apesar da vitória de José Luis Zapatero os 40 por cento obtidos pelo Partido Popular indiciam a hipótese de os conservadores puderem vir a prosseguir a estratégia de confronto mesmo que Mariano Rajoy venha a afastar-se.
A persistir a tensão entre os dois grandes partidos espanhóis num cenário de bipolarização em que socialistas e conservadores congregam 84 por cento dos votos mais difícil será chegar a um acordo nacional para renegociar os estatutos do País Basco e da Catalunha.
No caso do País Basco a ETA verá no triunfo do PSOE e do PP a expensas dos nacionalistas moderados nova oportunidade para forçar uma radicalização, apesar da actual fragilidade do seu aparelho terrorista.
Para já começou a guerra de propaganda do irredentistimo nacionalista, pois não deixa de ser significativa a persistência de um núcleo duro de apoiantes do separatismo basco pela via do terrorismo.
Jornal de Negócios
12 Março 2008
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?id=313207&template=SHOWNEWS_V2
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