domingo, 16 de setembro de 2012

Um Iraque ainda demasiado perigoso

Rumaila
   O primeiro concurso para a exploração de petróleo e gás no Iraque desde a nacionalização de 1972 ficou marcado pelas cautelas e reticências da maior parte das empresas estrangeiras.

   O consórcio da British Petroleum e da China National Petroleum Co. aceitou os termos estabelecidos pelo governo de Bagdade para a exploração das jazidas de Rumaila, as maiores do país, que têm 17,8 mil milhões de barris em reservas provadas.

   A troco de um prémio de 2 dólares por barril a partir do momento em que a produção passe do nível actual de 1,1 milhões de barris/dia para mais de 1,75 milhões de barril/dia, o contrato de serviços aceite pelo consórcio para a maior das jazidas iraquianas não é particularmente atractivo, mas abre a porta para uma presença lucrativa em futuros concursos.

  Para além da única arrematação conclusiva entre as seis jazidas petrolíferas e dois campos de gás em leilão, é significativo que nenhuma das 35 empresas aceites a concurso tenha apresentado propostas para o gás de Mansuryia.

   Situada na província de Dyiala, uma das mais violentas do Iraque, a jazida tem uma capacidade potencial de produção de 330 milhões de metros cúbicos/dia, mas os riscos de investimento num contrato de prestação de serviços afastaram investidores.

                            Grandes reservas e imensas dúvidas

   Numa indústria em que 80% das reservas mundiais provadas de petróleo são controladas por empresas estatais, a abertura do Iraque a investidores estrangeiros é uma oportunidade única, sobretudo quando no final deste ano forem a concurso jazidas nunca exploradas.

   As metas estabelecidas pelo governo de Bagdade de aumentar a actual produção de 2,4 milhões de barris/dia (ainda abaixo da média de 2,7 milhões de barris/dia nas já pouco favoráveis condições de exploração dos anos 2001/2002) para mais de 4 milhões de barris/dia nos próximos cinco anos são, muito provavelmente, pouco credíveis.

   As reservas provadas do Iraque, as terceiras maiores do mundo após a Arábia Saudita e o Irão, cifram-se em 115 mil milhões de barris, mas o desinvestimento e a delapidação de estruturas que se registavam antes da invasão de 2003 e se agravaram subsequentemente não permitem uma rápida exploração destes recursos.

   As condições de investimento não se mostram particularmente propícias por não permitirem, nomeadamente, que as empresas estrangeiras averbem as suas quotas de hidrocarbonetos iraquianos nos activos, os actuais contratos a leilão, com duração de 20 anos, são contestados por grande número de parlamentares em Bagdade e as próximas eleições legislativas de Janeiro poderão obrigar a uma revisão dos acordos.

   Os partidos iraquianos não chegaram a consenso sobre os termos de exploração e repartição dos lucros dos hidrocarbonetos e arrasta-se o diferendo entre Bagdade e o governo regional do Curdistão, agravado pela indefinição do estatuto de Kirkuk, reivindicada por curdos, árabes e turcomenos.

   As principais empresas internacionais evitaram até agora assinar contratos de exploração no Curdistão, não reconhecidos pelo governo central, apesar das boas condições de segurança e baixos custos operacionais.

                                     Incerteza no investimento

   Esperar para ver como o governo central vai gerir a segurança nos centros urbanos depois da retirada das forças de combate norte-americanas é o teste crucial dos próximos meses, que condicionará quaisquer perspectivas de investimento.

   O primeiro-ministro, Nuri Al Maliki, afirma que os cerca de 700 mil homens das forças de segurança e do exército iraquianos são capazes de evitar confrontos entre as comunidades rivais, prevenir actos terroristas e fazer cumprir o acordo para a retirada do contingente de 130 mil militares dos Estados Unidos até ao final de 2011.

   A forte presença xiita nas forças militares e policiais é, no entanto, vista com desconfiança nas regiões centrais de maioria sunita e as forças autónomas curdas mantêm o controlo no Norte do país, nas suas províncias de Erbil, Suleymanyia e Dehook.

   Um eventual recrudescer da violência (cerca de 1.800 mortos desde o início deste ano, ainda assim, três vezes menos vítimas do que em igual período de 2008) seria um fracasso fatal para as ambições de Al Maliki e poria em causa o acordo de retirada firmado com George W. Bush em Novembro de 2008.

   Numa fase de transição em que os imponderáveis do Irão pesam sobre o destino do Iraque, nem mesmo os cobiçados gás e petróleo são um investimento garantido.



Jornal de Negócios
01 Julho 2009

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