sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Silvio Berlusconi take 3


Italy - Politics - Elections - Leader of Italian party "Lega Nord", Umberto BossiUmberto Bossi
                                                                       Milão, Abril 2008
 
 
   O “federalismo económico” da Liga Norte de Umberto Bossi vai decidir o destino do terceiro governo de Silvio Berlusconi.
  
   A Lega Nord foi a grande vencedora das eleições italianas ao duplicar a votação, somando três milhões de votos e expandindo a sua influência dos feudos tradicionais do Vêneto e Lombardia às regiões do Piamonte e Emilia Romagna.

   Bossi é um homem de saúde precária depois do AVC que sofreu em 2004, mas a vaga chauvinista no Norte exasperada com imigrantes romenos e albaneses, desprezando a mísera Calábria, proteccionista ante a concorrência europeia, cedo encontrará outro líder para suceder ao político que reinventou o mito da Padânia.

   Os 25 senadores e 60 deputados devidos aos 8% de votos na Liga são fulcrais para a maioria de Berlusconi, ao contrário dos oito mandatos na câmara baixa e dois no senado dos parceiros sicilianos do Movimento para a Autonomia. O Popolo della Libertà (144 senadores e 272 deputados, estando ainda por apurar seis mandatos do estrangeiro para a câmara alta e 12 para a câmara baixa) lidera uma coligação mais homogénea do que maioria com que Berlusconi governou entre 2001 e 2006.

   O novo partido de Berlusconi, criado em Novembro de 2007 aglutinou os pós-fascistas de Gianfranco Fini e outras formações menores da direita e alijou a ala mais centrista da anterior coligação.

   A União de Democratas Cristãos e do Centro de Pier Ferdinando Casini quedou-se fora do arco do poder e ficou reduzida a três senadores e 36 deputados.

                                             Não há milagres

   Desta feita Il Cavaliere não promete milagres e bem difícil será compatibilizar as suas promessas de relançamento económico através de redução da carga fiscal e investimento público – recuperando, designadamente, o projecto da ponte de Messina para ligar a península à Sicília (orçado em quase 5 mil milhões de euros), alargando a rede viária nos Alpes e admitindo a participação em projectos nucleares civis europeus – com o esforço de contenção do défice (1,9% do PIB) e da dívida pública (104% do PIB) iniciado nos 20 meses de governo da heteróclita coligação de Romano Prodi.

   O proteccionismo propalado pela Liga Norte irá entrar em conflito com a eventual estratégia de privatização de empresas estatais dos sectores de transportes e energia e o caso da Alitalia a perder um milhão de euros por dia é desde já um teste às finanças públicas.

   Os 700 mil milhões de euros que Berlusconi afirma poder conseguir através da alienação de propriedades públicas esbarram no obstáculo de dois terços desses bens estarem sob tutela de autoridades regionais, provinciais e locais.
   As exigências de outorga de maiores receitas fiscais a par de poderes administrativos acrescidos a nível local por parte da Liga Norte dificultam qualquer estratégia para aumentar significativamente as receitas do poder central e uma estratégia de investimentos que privilegie as regiões desfavorecidas do Sul de Itália.

   A alienação de propriedades públicas não garantirá financiamento para sustentar uma política de expansão do investimento público e de redução da carga fiscal de 43% PIB para valores inferiores a 40%.

                                  O Norte cada vez mais forte

   Com expectativas de crescimento de apenas 0,3% para o ano corrente, segundo as previsões do FMI, confirma-se a tendência dos últimos 13 anos de um resultado abaixo da média da Zona Euro, e novas revisões da legislação laboral tenderão a agravar a taxa de desemprego que ronda os 6,5%, mas apresenta disparidades regionais significativas. No Norte o desemprego cifra-se abaixo de 4%, nas regiões centrais chega aos 6% e no Sul atinge 12%.

   O peso económico das regiões setentrionais com melhores indicadores sociais (PIB per capita de 25.500 euros em comparação com 14.400 euros no depauperado Sul, onde a economia paralela chega a representar 26% das actividades económicas da Sicília e Calábria, três vezes mais do que no Norte) vai claramente a par da sua influência política.

   As eleições italianas polarizaram o sistema político em torno de dois grandes partidos – 37 por cento dos sufrágios para o Popolo della Libertà, 33 por cento para o Partito Democratico de Walter Veltroni – e fazem pender agora a balança do poder cada vez mais para as regiões do Norte, agravando as disparidades regionais.

Jornal de Negócios
18 Abril 2008


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