domingo, 9 de setembro de 2012

Pobre, preto, subversivo


  


     Tinha 42 anos e morreu à fome.
  
     Morreu à fome e morreu à míngua de liberdade.

     Morreu ontem (23 de Fevereiro 2010) eram 3 da tarde em Havana.

     Morreu depois de 85 dias em greve de fome.
 
     85 dias.

     Fora preso pela primeira vez em Dezembro de 2002 por violação da ordem pública.

    Libertado em Março de 2003 voltou a ser detido dias depois.

   Acumulava penas de prisão. Penava em cadeias de alta segurança. Cumpria 36 anos de detenção por actividades subversivas. Era um dos presos de consciência cubanos reconhecidos pela Amnistia Internacional. 

   Poucos conheciam o seu nome: Orlando Zapata Tamayo.

   Vinha de um família pobre. Não passava de um pobre preto, pedreiro e canalizador.

   Militara na Alternativa Republica, mas não era um dos grandes nomes da dissidência cubana.

   Na segunda-feira quando o transferiram de urgência para um hospital de Havana o seu estado era desesperado.

  Ainda domingo 50 presos políticos cubanos tinham enviado à embaixada do Brasil uma carta apelando ao presidente Lula da Silva para que intercedesse pela libertação dos detidos e referiam a situação desesperada de Orlando Tamayo.

  Lula chegou ontem a Cuba em visita oficial no preciso dia em que Tamayo morreu.

  Nas prisões dos irmãos Castro amargam mais de 200 presos políticos. Inimigos do estado escapam ao pior não foram os protestos internacionais.

  Só em 1972 tinha morrido um outro preso político: Pedro Boitel depois de 53 dias em greve de fome. Desde então o regime cubano passou a evitar que greves de fome chegassem ao seu fatal destino.

  Desta feita ignoraram a sorte de Orlando Tamayo. Só passaram a alimentá-lo à força com soro quando era demasiado tarde.

  Era um pobre, preto, subversivo.

  Homem de pouca valia e morreu logo no dia em Lula da Silva aterrou em Havana.

  Se não pesa na consciência dos irmãos Castro a morte de um pobre preto subversivo espere-se ao menos um gesto de Lula da Silva. 

  Muito antes de chegar a presidente também conheceu a miséria. Lula também foi um pobre operário subversivo preso pela ditadura.

 No fundo da alma terá de lhe pesar a morte de um pobre preto subversivo: o cubano Orlando Tamayo, morto depois de 85 dias em greve de fome.    

TSF / O Mundo num Minuto
24 Fevereiro 2010

http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=917506&audio_id=1503350

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