quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Palocci em rio de piranha


   O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, comparece hoje no Congresso de Brasília e vai ter de se explicar quanto às acusações de corrupção enquanto perfeito de Ribeirão Preto entre 2000 e 2002, defender-se das suspeitas de angariação de financiamentos ilícitos para a campanha de Lula à presidência e negar as alegações de favorecimento a empresários como membro do governo.

   Lula tem vindo a repetir que não alterará a política económico-financeira, nem demitirá Palocci, mas na segunda-feira (véspera de feriado no Brasil) os mercados bolsista e cambial já davam mostras de inquietação face à possível saída do ministro.

   Nas bandas da oposição a maioria dos dirigentes do Partido da Frente Liberal e do Partido da Social Democracia Brasileira admite que a demissão de Palocci poderá por em causa a estabilidade financeira.

   Na frente governamental o presidente teve de fazer calar a ministra-chefe da sua Casa Civil, Dilma Rousseff, que criticou a política fiscal do responsável da Fazenda, com o aplauso solícito do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e do vice-presidente José Alencar.

   Lula a um ano de eleições ignorou até agora os apelos do novo presidente do Partido dos Trabalhadores, Ricardo Berzoini, que exige uma diminuição das taxas de juro e do esforço fiscal em 2006.

   A inflação abaixo dos 5 por cento, a balança comercial com saldo positivo, mas a taxa de juro base nos 19 por cento e uma perspectiva de crescimento económico inferior ao objectivo de 3,5 no final do ano, representam o balanço algo contraditório, mas muito estimável, da gestão Palocci.

   O drama passa pela implicação deste ex-trotskista convertido à ortodoxia do equilíbrio fiscal em toda a malha de escândalos que é a imagem de marca do sistema partidário e político do Brasil.

   Os casos e inquéritos ditos do mensalão, dos bingos, dos correios, com um rol de abusos de dinheiros públicos, subornos, financiamentos ilegais de partidos, contratos de empresas do estado a favor de familiares e gentes do governo, incluindo um filho do presidente, para não falar do misterioso assassinato do perfeito petista de Santo André, Celso Daniel, alastram e continuam a fazer mossa.

   A última denúncia em data atravessou o Atlântico e implica Marcos Valério, o pivot dos financiamentos ilegais, no pagamento de 2,7 milhões de dólares em luvas (passando por contas do BIC, em Lisboa) ao ministro das Finanças de Luanda, José Pedro de Morais, e ao presidente do Banco Nacional de Angola, Amadeu Maurício, com retorno de suspeitas diversas de favores de empresários angolanos aos círculos dos PT e de vantagens oferecidas a homens de negócios brasileiros em Angola com conhecimento de Palocci.

  Palocci, tal como José Dirceu, o defenestrado número dois de Lula, surge irremediavelmente como agente, conivente ou, na mais ingénua das hipóteses, político displicente em matéria de actos ilícitos.
  
  Agora, politicamente condenado e moralmente suspeito, só lhe resta atentar no ditado e, qual jacaré em rio de piranha, nadar de costas. Não adianta é tentar fazer-se passar por cordeirinho sacrificado pela devoção ao saneamento das finanças públicas.

Jornal de Negócios
16 Novembro 2005

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