domingo, 16 de setembro de 2012

Il faut qu'on parle français!

Supporters of Pauline Marois and the Parti Quebecois cheer the party's victory in Quebec's elections



   

                          Il faut qu'on parle français!

   O retorno ao poder dos separatistas do “Parti Québécois” (PQ) irá relançar a discussão sobre o ordenamento constitucional da federação e poderá inquinar as relações entre a maioria francófona, anglófonos e imigrantes na segunda mais populosa província do Canadá.
   
   O aposta do primeiro-ministro Jean Chareste em convocar eleições antecipadas no Verão para minizar o desgaste provocado por protestos estudantis contra aumentos de propinas e inquéritos sobre corrupção não terá conseguido evitar uma derrota na votação de terça-feira.
  
   O “Parti Libéral du Québec” após nove anos de governação cederá lugar ao PQ liderado por Pauline Marois que, mesmo minoritário na Assemblée Nationale da Ville de Québec, promete encetar uma política de confronto com o governo de Ottawa chefiado desde 2006 pelo conservador Stephen Harder.

                                     Québécois d' abord!

   Fundado em 1986 o PQ averbou o seu primeiro triunfo eleitoral em Novembro de 1976, convocou um referendo sobre a independência em 1980 que perdeu (59,56% contra), viu o seu líder René Lévesque reeleito em Abril de 1981 e cedeu o poder aos liberais em Dezembro de 1985.
  
   Os independentistas liderados por Jacques Parizeau voltaram ao governo em 1994, falharam por escassa margem novo referendo em Outubro do ano seguinte (50,6% contra), e só em 2003 foram batidos pelo PLQ.
  
   Marois, à frente do partido desde 2007, terá de contar com as reticências da recém-criada “Coalition Avenir Québec” de centro-direita – chefiada por um dissidente do PQ, François Légualt, que dá prioridade ao combate à corrupção, redução da carga fiscal e investimentos na educação e saúde -- quanto à convocação de novo referendo independentista.
   
    A primeira mulher a chefiar o executivo de La Belle Province promete começar por rescindir os aumentos de propinas e novas taxas sobre prestação de cuidados de saúde e opôr-se ao controlo de firmas locais por empresas não-canadianas.
  
   A orientação de centro-esquerda do PQ não obsta a que, na senda dos liberais, pretenda atrair investimento estrangeiro no âmbito do plano a 25 anos lançado por Chareste em 2011 de exploração dos recursos florestais, minerais e energéticos do norte da província.
   
    O Quebec engloba 24% da população do país tem uma economia assente nos serviços e indústrias de transformação, regista uma taxa de desemprego rondando os 8%, e aspira, na medida do que a geologia possibilitar, a benefícios equivalentes aos propiciados pela exploração de matérias-primas a ocidente -- em Alberta, Columbia Britânica, Territórios do Noroeste e Saskatchewan – que contribuíram para que o Canadá escapasse à recessão.

                              Encore un effort!

   A adopção de medidas para reforço da supremacia francófona, obrigando nomeadamente candidatos a cargos públicos de origem estrangeira à realização de testes de proficiência linguística, é uma das muitas iniciativas a esperar do PQ em prol dos 81% de residentes que entre os cerca de 8 milhões de habitantes declaram o francês como primeira língua.
   
   As tiradas sobre a primazia dos québécois de souche e a insistência na fibre identitaire afrontam a minoria anglófona e os residentes de origem estrangeira que tendem a identificar-se com um Canadá multicultural e plurilinguístico entre cujos 35 milhões de habitantes prevalece o inglês.
  
    Desde o início de 2007 – quando a população de origem estrangeira equivalia a 11,5% dos residentes -- e 2011 o Quebec absorveu 245 606 imigrantes e no primeiro semestre de 2012 registou mais 10 928 entradas.
  
   As ambições soberanistas do PQ obrigam a um braço de ferro com o governo federal sobre questões tão diversas quanto leis de copyright ou política de imigração e visam, sobretudo, vincar a matriz francesa da província que só cede ao Ontario como pólo demográfico.
  
   Marois, contudo, muito terá de caminhar para avançar pela via do referendo, considerando que numa sondagem realizada em Agosto pelo “CROP Inc.”, de Montreal, apenas 28% dos inquiridos diziam apoiar a independência do Quebec.
  
   A polémica constitucional está de volta, tal como as loas ao provincianismo e particularismo de Quebec, mas, mesmo com mais uma demão, é possível que a pintura desbote.

Jornal de Negócios
05 Setembro 2012

Resultados da eleição de 4 de Setembro:


Parti Québécois 32%, Parti Libéral du Québéc 31%,
Coalition Avenir Québec 27%, Québec Solidaire 6%

Sem comentários:

Enviar um comentário