domingo, 9 de setembro de 2012

A recessão e a liderança

 
 
   A muito provável recessão nos Estados Unidos apresenta o sério risco de poder prolongar-se muito mais do que os três trimestres de quebra registados em 2001 devido à crise do sector financeiro.
 
   Uma das consequências de uma eventual recessão será o agravamento do défice orçamental (163 mil milhões de dólares no ano fiscal de 2006/07 Outubro-Setembro) e quem suceder a George W. Bush herdará um saldo negativo que poderá aproximar-se do recorde de 413 mil milhões de dólares registado em 2004.
 
   O plano de estímulo fiscal apresentado pela administração Bush agravará necessariamente o défice orçamental, que representa 1,2% do PIB, e o seu sucessor ou sucessora dificilmente poderá cumprir promessas eleitorais de tipo expansionista, como os 110 mil milhões de dólares que Hillary Clinton se propõe injectar na expansão da assistência médica.

                                             O pacote tardio

   Na campanha eleitoral norte-americana entrou agora em cheio a discussão sobre a recessão que aí vem ou já começou.

   Os 150 mil milhões de dólares, equivalentes a 1,2 por cento do PIB dos Estados Unidos, de patrocínio fiscal do pacote Bush chegam demasiado tarde para evitar o pior e a Reserva Federal – após baixar a taxa directora para 3,5 por cento num corte de 75 pontos base, o maior desde Agosto de 1982 – tem as opções limitadas já que o índice de preços ao consumidor registou um aumento de 2,7 por cento em 2007.

   O pacote Bush, na versão actualmente em discussão, propõe designadamente a entrega de 800 dólares por pessoa, 1 600 dólares por família, mas o Congresso dominado pelos democratas tenderá a eliminar as subvenções para as camadas de rendimentos mais altos, por exemplo, contribuintes com receitas superiores a 85 mil dólares/ano.

   Qualquer que seja o montante final dos cheques a enviar aos contribuintes e os benefícios atribuídos a empresas, acrescidos, eventualmente, de verbas para estimular obras em infra-estruturas a nível estadual, o pacote, se for aprovado antes de Março pelo Congresso, só no Verão começará a produzir efeitos no aumento do consumo.

   Acresce que a crise no sector financeiro e a quebra no imobiliário seguem o seu curso independentemente do eventual sucesso do pacote de estímulos fiscais e subvenções estaduais.

                                                Promessas excessivas

   Será, pois, em clima depressivo que as convenções dos partidos democrático e republicano aclamarão os seus candidatos no final de Agosto e no início de Setembro.

   Até lá é bem provável que aumentem as promessas de subvenções e ajudas estatais.

   Hillary Clinton defende em particular ajudas federais no montante de 30 mil milhões de dólares para obviar à crise do sector imobiliário, mais 10 mil milhões para apoio a desempregados (matéria particularmente sensível depois do índice de desemprego ter alcançado em Dezembro 5%, o valor mais alto em dois anos).

   Entre os republicanos surge a ideia de tornar permanentes as reduções de impostos avançadas por Bush em 2001 e 2003 que expiram em 2010 e Rudy Giuliani chega a prometer a maior baixa da carga fiscal na história do país.

   A retórica proteccionista torna-se cada vez mais omnipresente.

   Mitt Romney, por exemplo, declarou em Detroit que a indústria automóvel não podia ficar em mãos estrangeiras, ignorando que cerca de 30% dos 83 mil trabalhadores do sector são empregados por empresas não-americanas que representam quase metade das vendas do sector nos Estados Unidos.    
         
   Mesmo que os Estados Unidos escapem à recessão a percepção do eleitorado é depressiva e se em campanha presidencial vingam as promessas de política anticíclica, os défices orçamental e da balança de transacções correntes vão cortar as veleidades do sucessor ou sucessora de Bush que prestar juramento em Janeiro.


Jornal de Negócios
23 Janeiro 2008

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