sábado, 8 de setembro de 2012

Uma transição atípica na Casa Branca


 
 
   O sucessor de George W. Bush tem de anunciar o mais rapidamente possível os responsáveis por alguns dos principais cargos da nova administração.
 
   A ter-se confirmado a vitória de Barack Obama, a sua tarefa estará facilitada graças à maioria democrática no Senado, que acelerará as confirmações após o presidente tomar pose, a 20 de Janeiro.
 
   Um presidente democrata confrontar-se-á, no entanto, com a dificuldade de ter de assumir opções programáticas urgentes ainda antes de entrar na Casa Branca, evitando, simultaneamente, comprometer-se com iniciativas da administração Bush.

    A cimeira financeira internacional de 15 de Novembro em Washington é o primeiro exemplo de uma situação de potencial conflito entre a administração republicana e a futura equipa democrata.

                                     Uma cimeira sem Obama

    Obama terá então anunciado a escolha do futuro secretário do Tesouro, mas não poderá desautorizar compromissos que Bush venha a assumir.

    Os nomes mais falados numa administração Obama – designadamente Larry Summers ou Robert Rubin, antigos secretários do Tesouro de Bill Clinton, ou, ainda, o antigo presidente da Reserva Federal, Paul Volcker, além de Timothy Geithner, presidente do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque – representam um capital de experiência e consistência política que poderá ser bem acolhido nos círculos financeiros e empresariais.

    Declarações de princípio ou propostas de medidas que sejam adoptadas na cimeira de nada valerão sem a aprovação prévia da equipa de Barack Obama, que, no entanto, não se pode arrogar das prerrogativas exclusivas do ainda presidente ou apresentar propostas contradizendo a Casa Branca numa altura em que ainda não tem capacidade oficial.

    Um confronto entre Bush e Obama nos próximos dois meses apresenta um risco demasiado alto de destabilização dos mercados financeiros e pode obrigar a um compromisso que limite ainda mais as opções da futura administração.

    Esta será uma das questões mais intrincadas do período de transição numa conjuntura de deterioração da situação económica nos Estados Unidos e de instabilidade financeira e cambial.

    Igual importância terá a indicação do futuro secretário de Estado e do conselheiro de segurança nacional.

   Entre as opções de Obama para chefiar o departamento de Estado, figuram dois senadores republicanos, Richard Lugar e Chuck Hagel, e o democrata hispânico Bill Richardson, governador do Novo México.

    A escolha de Samantha Power para conselheira seria a mais problemática duma lista onde figuram personalidades mais experientes, como o antigo responsável pelo Comando Central (Médio Oriente e Ásia Central), o general Anthony Zinni, ou a ex-subsecretária de Estado para os assuntos africanos de Clinton, Susan Rice.

    Uma das características das listas de nomes aventados nos círculos democratas é o elevado número de antigos responsáveis dos anos Clinton e de personalidades moderadas republicanas, o que indicia, à partida, as pressões a que Obama será sujeito para formar uma administração que, inevitavelmente, decepcionará a ala mais à esquerda que lançou a sua candidatura nas primárias democráticas.  

                                    O Iraque de novo no topo da agenda

   Em questões de política externa e de segurança, as escolhas de Obama assumirão uma importância capital, tanto mais porque Washington terá de chegar a acordo com Bagdade sobre um acordo de segurança até final de Dezembro, data em que expira o mandato da ONU para a presença de tropas norte-americanas no Iraque.

    Os termos do acordo, nomeadamente o estatuto legal das forças militares norte-americanas e datas de retirada, implicam o acordo prévio do sucessor de Bush e não é seguro que os partidos políticos iraquianos aceitem uma solução viável para Obama e para o Pentágono.

    Nestas questões, a que se junta a crise latente na península coreana, a presumível coerência de uma administração democrática será testada por outras nomeações fundamentais.

    Para secretário de estado da Defesa, Chuck Hagel surge de novo como hipótese viável, a par da manutenção de Robert Gates, entre outros nomes vindos uma vez mais da administração Clinton, casos de Richard Danzig ou John Hamre.

                                   Uma transição conflituosa

   A expectativa de que George Bush promulgue até à data limite de 20 deste mês legislação relevante na área económica e até 20 de Dezembro directivas governamentais noutros sectores, como justiça, saúde e ambiente, que obriguem a futura administração a tomar iniciativas morosas para anular essas iniciativas, é factor de potencial perturbação durante o período de transição.

    A dimensão da maioria democrática no Senado é outro elemento de consequências difíceis de avaliar.

    Caso os democratas tenham conseguido anular a minoria de bloqueio republicana, obtendo 60 mandatos, Obama terá de manobrar entre as propensões de uma revolução legislativa, cedendo à ala mais à esquerda do partido e às reivindicações de sindicatos, e a necessidade de refrear medidas incomportáveis com a gravíssima situação orçamental.

   Em qualquer dos casos, as expectativas de mudança que grande parte do eleitorado tem na presidência Obama serão rapidamente frustradas dados os constrangimentos económicos e financeiros, os confrontos internacionais provocados pela adopção de medidas proteccionistas e a elevadíssima probabilidade de uma grande crise no primeiro ano de mandato, devido aos programas militares nucleares do Irão e da Coreia do Norte.

   John McCain, que, por estas horas, estará muito provavelmente a ser acusado por todos os dramas da derrota republicana, tem ainda mais uma batalha pela frente.

   O senador do Arizona poderá contribuir para salvaguardar no Senado o núcleo mais moderado do partido republicano e, neste caso, será um dos aliados mais valiosos para Barack Obama e um dos seus críticos mais respeitados.

Jornal de Negócios
05 Novembro 2008

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