quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Presidenciável procura parceiro(a)

 
   Barack Obama assegurou efectivamente a nomeação como candidato presidencial, mas ainda terá de penar muito para unir o eleitorado do Partido Democrático e definir uma estratégia vencedora para a Casa Branca. 
 
   Numa campanha acrimoniosa, os democratas escaparam pelo menos ao pesadelo de uma Convenção sem candidato definido, mas Obama não pode correr o risco de chegar a Denver no final de Agosto sem ter já escolhido um vice-presidente.
   Autoproclamado político da inclusão racial e da audácia da esperança, Obama viu-se claramente identificado pela campanha de Hillary e Bill Clinton como um candidato favorecido pela minoria negra que outrora incensara o antigo presidente democrata.
   A relutância de Obama em repudiar a velha amizade e admiração pelo pastor racista Jeremiah Wright agravou o estigma racial.
Obama continua a não conseguir garantir o apoio maioritário de democratas brancos de baixos rendimentos, qualificações académicas diminutas, além do voto feminino, hispânico e de maiores de 55 anos.
   Todos os temas de ataque a Obama – elitista, arrogante, inexperiente, dúbio patriota com ligações espúrias a empresários suspeitos de Chicago, pastores xenófobos e terroristas do Weather Underground – foram explorados por Hillary e aos republicanos resta repicar e acentuar o tom crítico para chocar o eleitorado hesitante ante um candidato filho de muçulmano que leva o nome Hussein.
   A recusa pública de Geraldine Ferraro – candidata à vice-presidência em 1984 na campanha de Walter Mondale que redundou na reeleição de Ronald Reagan – em votar Obama por o considerar sexista e oportunista na exploração de sentimentos racistas é um exemplo claro das dificuldades que o senador tem pela frente para unificar o eleitorado democrata.
   Entre os apoiantes de Hillary, 25 a 40 por cento admitem, presentemente, não votar ou escolher McCain em Novembro se a senadora não for candidata.
Esta rejeição que, em regra, diminui à medida que se aproxima a data da eleição, cifra-se em 25 por cento entre os eleitores de Obama que afirmam preferir o candidato republicano à senadora de Nova Iorque.
   Nenhuma sondagem considerou até agora a possibilidade de alteração de maiorias eleitorais em estados-chave através de transferências de votos de democratas e votantes sem filiação partidária para candidatos independentes como Ralph Nader, que em 2000 conseguiu quase 2.900.000 votos (2,7%), para quatro anos depois baixar para os 465.000 (0,38%).
   O parceiro ou parceira (Hillary excluída e remetida para eventual líder da maioria democrata no Senado) de Obama terá, portanto, de reunir requisitos suficientes para colmatar a maior parte das deficiências do senador que podem custar a eleição em estados- chave como o Ohio, Texas ou Flórida e, adicionalmente, apresentar credenciais em matéria de política externa e defesa.

                         McCain melhor do que os republicanos

   As vitórias de candidatos democratas em três circunscrições detidas por representantes republicanos em eleições realizadas desde Março apontam para um triunfo do Partido Democrático nas votações de Novembro para o Congresso.
   McCain, por sua vez, tem vindo a tentar superar as reticências dos republicanos evangélicos e a mitigar críticas passadas, a isenções fiscais, por exemplo, de forma a congregar o eleitorado mais conservador sem, contudo, deixar-se identificar com a actual administração.
   O candidato republicano surge com uma desvantagem apenas um ponto em relação a Obama na última sondagem nacional da Gallup (14-18 de Maio) sobre intenção de voto de eleitores registados, enquanto que Hillary conseguia reunir num confronto com McCain uma vantagem de quatro pontos.
    Faltam, no entanto, sondagens sobre o eventual prejuízo que a candidatura do antigo representante republicano da Geórgia Bob Barr pelo Partido Libertário possa causar a McCain.
   As polémicas das últimas semanas sobre a presença de representantes de empresas de “lobbying” na campanha de McCain indiciam algumas das linhas de ataque que Obama lançará para tentar abalar a imagem promovida pelo candidato republicano.
   A questão da idade de McCain, nascido a 29 de Agosto de 1936, surgirá inevitavelmente como outro tema forte, mas não será assumida por Obama e ficará a cargo dos activistas que já lançaram “sites” do género Things younger than Republican Presidential Candidate onde se comprazem a enumerar velharias mais jovens do que o candidato, caso do McDonald’s, a penicilina, as meias de nylon, a cinematográfica Golden Gate Bridge de São Francisco ou o Super-Homem.
   Obama terá de concentrar-se em alguns temas fortes – política energética e ambiental, reforma da segurança social e assistência médica, contenção do défice orçamental e comercial, Iraque – para fazer avançar a sua campanha e marcar a diferença em relação ao candidato republicano, particularmente vulnerável em matérias económicas e sociais, mas capaz de pôr em causa o discernimento e competência do senador do Illinois em questões de segurança nacional.
   Para McCain a escolha de um parceiro ou parceira na candidatura à Casa Branca passa obrigatoriamente pela identificação de um político(a) com credenciais sobretudo em matéria de economia, que não hostilize a ala conservadora republicana, mas que não surja também identificado com a administração Bush.

                                           Trunfos democratas

   O aumento no número de novos recenseados, o interesse demonstrado pelos jovens nestas primárias, o inovador sistema de angariação de fundos via Internet desenvolvido pela campanha de Obama são trunfos a favor dos democratas.
   No primeiro trimestre de 2008 recensearam-se mais de 3,5 milhões de eleitores, segundo um levantamento da Associated Press. É um aumento significativo de 64 por cento em relação ao primeiro trimestre da campanha de 2004, de acordo com os dados comparativos disponíveis em 21 dos 50 estados do país.
   Descontando a percentagem de cidadãos que mudou de estado (o censo de 2000 estimava a mobilidade geográfica interestadual em 8,5 milhões pessoas/ano, ou seja, 19 % dos 43 milhões de norte--americanos que entre Março de 1999 e Março de 2000 tinham alterado a sua residência), o aumento de inscrições nos cadernos eleitorais aponta para uma participação elevada na votação de Novembro, superior aos 60,7 % registados em 2004.
   Negros e mulheres constituem a maior parte dos novos recenseados e mesmo em estados ganhos por George W. Bush em 2004, como o Iowa, Luisiana ou Carolina do Norte, os democratas recém--inscritos nos cadernos eleitorais superam os republicanos.
   Obama tem a conjuntura a seu favor, mas se não conseguir evitar clivagens no campo democrata dificilmente poderá conduzir uma campanha capaz de seduzir os eleitores independentes.

Jornal de Negócios
21 Maio 2008

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