sexta-feira, 24 de agosto de 2012

À espera da guerra de Agosto




   A não-oposição ou envolvimento dos Estados Unidos terão de ser garantidos antes das presidenciais de Novembro e, militarmente, o período ideal para um ataque israelita vai até ao início do Outono.

   O impasse na guerra civil na Síria e as ténues expectativas para nova ronda de negociações sobre a questão nuclear iraniana nada de bom auguram para uma eventual retoma económica na Europa.

   Depois do fracasso do plano de paz da Liga Árabe, em Janeiro, o acordo de cessar-fogo mediado por Kofi Annan está em risco de colapso e a guerra civil síria ameaça envolver directamente a Turquia.

   O crescente afluxo de refugiados à Turquia e o aumento de incidentes na fronteira levaram Ancara a admitir a eventualidade de represálias contra Damasco, numa escalada que arrastaria o Líbano, o Iraque e a Jordânia.

   Bashar al Assad continua a contar com a sua comunidade alauíta e os temores de cristãos, drusos e curdos, entre outras minorias, para fazer frente à maioria sunita.

   A superioridade militar do regime, na medida em que consiga suportar sanções comerciais e financeiras, é suficiente para obstar à criação de zonas sob controlo dos diversos grupos armados de insurrectos.

   Um ano de guerra civil acentuou, entretanto, as tensões étnico-religiosas no Levante e o jogo de alianças regional paralisa mediações diplomáticas divergentes.

                                   Assad e os outros

   Arábia Saudita e Qatar pretendem o afastamento imediato de Assad e armar forças rebeldes, enquanto russos e chineses consideram o presidente como elemento fulcral nas negociações, vetando na ONU veleidades de intervenção militar.

   Washington rejeita apoio militar a forças de oposição com implantação e compromissos pouco claros, condena o sustento do Irão ao regime alauíta, e o primeiro-ministro xiita de Bagdade, por sua vez, opõe-se a qualquer acto de força por potências externas.

   A fragmentação do estado sírio acarretaria confrontos em cadeia, envolvendo curdos na Turquia, Iraque e Irão, mergulharia o Líbano noutra guerra civil, desestabilizaria a monarquia jordana e as províncias iraquianas sunitas e obrigaria Israel a reforçar a defesa dos Montes Golã ocupados pelo estado judaico na sequência da guerra de 1967.

   O arrastar da guerra na Síria é um dos factores mais urgentes a condicionar as negociações entre o Irão os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, além da Alemanha, que se iniciam sábado em Istambul.

   Na eventualidade de Teerão aceder a reduzir o enriquecimento de urânio a 3,5% (susceptível apenas de uso não-militar) a troco do levantamento ou suspensão, total ou parcial, de sanções comerciais e financeiras seria ainda necessário confirmar mecanismos de inspecção fiáveis e definir o destino a dar aos cerca de 110 quilos de urânio enriquecido a 20% (passíveis de elevar rapidamente até níveis superiores a 90% para fins militares) na posse do Irão, segundo dados da "Agência Internacional de Energia Atómica".

   Da parte de Teerão está, também, fora de questão encerrar a central nuclear no complexo subterrâneo de Fordo, perto da cidade santa de Qoom, no centro do país, cuja existência só foi admitida em 2009 depois das instalações terem sido referenciadas por serviços secretos de diversos países.

   As negociações, que vão decorrer a par da contagem decrescente para a imposição em Julho de um embargo total às exportações petrolíferas iranianas por parte da União Europeia, são tidas em Israel como mero pretexto para Irão ganhar tempo.

                                     Rumo à guerra

   Em Telavive reina a tese de que um ataque militar é justificável a partir do momento em que o Irão consiga dotar-se de capacidade defensiva suficiente para salvaguardar as instalações e recursos humanos necessários à produção de urânio disponibilizável para bombas nucleares à revelia de inspecções internacionais.

   A capacidade de produzir ogivas nucleares para lançamento através de mísseis ou outros meios de transporte é irrelevante nesta lógica que considerará estarem reunidas condições para minimizar reacções negativas por parte dos principais aliados ou potências não declaradamente hostis assim que falhar a ronda de Istambul, provando a ineficácia de sanções.

   A não-oposição ou envolvimento dos Estados Unidos terão de ser garantidos antes das presidenciais de Novembro e, militarmente, o período ideal para um ataque vai até ao início do Outono altura em que as condições meteorológicas impossibilitam operações aéreas de envergadura.

   Se Israel perder esta oportunidade para desencadear um ataque unilateral, contando com apoios no Curdistão iraquiano e no Arzebeijão, e forçando Washington a envolver-se no conflito, só na próxima Primavera poderá voltar a considerar uma opção militar.

   O lançamento de um satélite norte-coreano, um teste balístico à revelia da ONU por uma potência nuclear pária e impune, vai reforçar por estes dias toda a lógica que levará à guerra.
Jornal de Negócios

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