terça-feira, 28 de agosto de 2012

Por mil milhões de dólares

 
 
  À cata do dinheiro Barack Obama formalizou com 20 meses de antecedência sobre a eleição presidencial de Novembro de 2012 o anúncio da recandidatura à Casa Branca, iniciando desde já a angariação de fundos no intuito de bater todos os recordes de financiamento.
   Mil milhões de dólares é a meta a atingir e superar, se possível, na angariação de contribuições para a reeleição presidencial de forma a sobrarem ainda verbas para doação às campanhas de candidatos democráticos à Câmara de Representantes e ao Senado.

O antigo senador de Illinois conseguiu em 2008 angariar cerca de 750 milhões de dólares numa campanha renhida pela nomeação contra Hillary Clinton e, posteriormente, na disputa da Casa Branca frente a John McCain.

A vez dos grandes contribuintes
A candidatura de Obama em 2008 assentou em grande parte na mobilização de militantes e contou como uma recolha recorde de fundos via internet de pequenos contribuintes.

A campanha de Obama agregou cerca de quatro milhões de contribuintes e um terço dos seus donativos eleitorais cifrou-se em 200 dólares ou menos, enquanto as contribuições iguais ou superiores a 1000 dólares representarem 42%.

No esforço de reeleição Obama não poderá contar com semelhante mobilização de novos contribuintes para o Partido Democrático e, consequentemente, o director de campanha, o antigo vice-chefe do gabinete presidencial Jim Messina, apresentou como objectivo imediato a recolha de fundos junto de grandes doadores.

Obama, que provavelmente nem terá de disputar uma primária no Partido Democrático, irá prescindir do financiamento estatal à campanha, tal como fez em 2008, de forma a obviar às limitações federais a gastos eleitorais.

Na última campanha presidencial candidatos, partidos e grupos independentes gastaram cerca de 2 mil milhões de dólares, segundo a Comissão Federal de Eleições, e em 2012 é provável que este montante se possa aproximar dos 3 mil milhões.

A decisão do Supremo Tribunal de Janeiro de 2010, anulando 20 anos de proibição de financiamentos por parte de empresas e sindicatos a anúncios de propaganda política, favorecerá sobretudo a oposição republicana, mas na eventual ausência de um candidato credível contra Obama boa parte desses dólares irão tendencialmente para as candidaturas mais conservadoras, democráticas e republicanas, à Câmara de Representantes de maioria republicana e ao Senado, onde a maioria ainda pende para os democratas.

A divisão republicana
À partida Obama tem todas as condições para ultrapassar largamente o financiamento de qualquer opositor, mas o seu maior trunfo é a divisão do Partido Republicano.

Nenhum candidato credível surgiu até agora entre as hostes republicanas que irão iniciar em Fevereiro de 2012 o processo formal de nomeação.

O milionário Mitt Romney, governador de perfil moderando do Massachusetts de 2003 a 2007, deverá reincidir na candidatura à nomeação republicana, mas é ainda pouco aceitável para as bases mais conservadoras do partido e a crença religiosa mórmon não o favorece.

Outros potenciais candidatos como Tim Pawlenty, ex-governador do Minnesota, Ron Paul, membro da Câmara dos Representantes pelo Texas, ou Mitch Daniels, antigo governador do Indiana, confrontam-se com sérias dificuldades para assegurar a nomeação republicana.

Sarah Pallin, ex-governadora do Alaska e parceira de McCain em 2008, e Mick Huckabee, antigo governador de Arkansas, galvanizam, pelo contrário, as alas mais conservadoras do partido em matéria social e fiscal, mas alienam os eleitores independentes.

A extrema dificuldade que os republicanos demonstram para virem a apresentar uma frente unida com um candidato capaz de mobilizar as bases sem alienar eleitores oscilantes entre os dois principais partidos vale milhões de votos e valoriza cada dólar a investir na campanha.

Contra Obama joga, contudo, a recuperação republicana nas votações de 2010 e as modificações na geografia eleitoral que indiciam grandes dificuldades para voltar a vencer em estados tradicionalmente republicanos como Indiana, Carolina do Norte ou Virgínia, colocando ainda em dúvida uma eventual prevalência do candidato no Ohio e Pensilvânia.

Uma eternidade dólar a dólar
Na impossibilidade de definir de imediato os principais temas de campanha para Novembro de 2012 Obama opta pelo seguro e passa à angariação de fundos.

Ano e meio é uma eternidade em política, qualquer eleição presidencial está dependente da conjuntura, e numa situação económica instável Obama terá grandes dificuldades em acertar com alguns temas-chave de campanha de forma a melhorar as actuais taxas de aprovação (ligeiramente superiores a 40%) e a percepção negativa quanto ao rumo do país (64% na última sondagem Reuters-Ipsos).

As polémicas sobre contenção da dívida pública e défice orçamental, a sustentabilidade dos programas de assistência médica a idosos e incapacitados (Medicare) e pobres (Medicaid) são alguns dos potenciais factores de destabilização das estratégias eleitorais da Casa Branca.

Acrescem projecções, como as do Conselho de Assessores Económicos da Casa Branca, que apontam para uma taxa de desemprego nos 8,6% em 2012.

O aumento dos rendimentos do trabalho no sector privado, por sua vez, não acompanha o crescimento da inflação (2,1%) provocada pela alta de preços da energia e alimentação, retomando assim a tendência negativa (menos 1,1% no valor real dos salários) registada entre Outubro de 2010 e Fevereiro de 2011.

As convulsões em países árabes complicam uma situação internacional particularmente difícil a que se agregarão pendências políticas quanto ao Irão e a Coreia do Norte, capazes de lançarem dúvidas sobre a capacidade de liderança e gestão de crises por parte da Casa Branca.

Longo e tortuoso é o caminho para a eventual reeleição de Obama, mas o candidato, pelo menos, não perde de vista que toda a campanha se faz dólar a dólar.


Jornal de Negócios
06 Abril 2011
 

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