terça-feira, 28 de agosto de 2012

Romney faz-se ao mundo

 
      O antigo governador do Massachusetts fez-se ao mundo sem que aparentemente tenha ganho qualquer trunfo para galvanizar sequer as bases republicanas apesar de uma conjuntura económica desfavorável ao presidente democrata.
 
   Dislates imperdoáveis em Londres, exaltação encenada em Jerusalém e trivialidades dúbias em Gdansk e Varsóvia marcaram a incursão internacional de Mitt Romney que ficou aquém da digressão triunfal de Barack Obama há precisamente quatro anos.

Depois de ter arrebatado a nomeação Obama, aproveitando a decisão de George W. Bush de encetar a retirada do Iraque e optar pelo reforço militar no Afeganistão, partiu para o Médio Oriente e a Europa, reorientou os termos do debate estratégico em prejuízo de John McCain e ganhou imagem de estadista com competência para definir um novo rumo.

Para polir credenciais no vasto mundo Romney saiu agora em desvantagem já que Obama – o matador de Bin Laden – se apresenta com trunfos fortes em questões de segurança e projecção militar do poder.

Numa disputa eleitoral em que as questões internacionais assumem importância secundária só restou a Romney procurar dar uma imagem de protector decidido de aliados fiéis descurados pela Casa Branca.

Um mórmon na cidade santa

Obama foi ao Afeganistão, ao Kuwait, ao Iraque, à Jordânia, à Cisjordânia e a Israel, enquanto Romney se quedou por Jerusalém e, tal como o candidato democrata em 2008, classificou a cidade, à revelia das decisões da ONU, como "capital eterna e indivisível" do estado judaico.

Depois do descalabro londrino – onde fora trucidado pelos media por comentários à alegada impreparação britânica para organizar os Jogos Olímpicos – Romney perante uma declaração de apoio a um eventual ataque unilateral israelita ao Irão, por parte de um assessor, viu-se obrigado a clarificações sobre um mero "direito de autodefesa".

Outra tirada acerca da "mão da providência" e superioridade cultural no sucesso económico do estado judaico amargou irremediavelmente o que pudesse sair de menos mau de um encontro com o primeiro-ministro palestiniano Salam Fayyad.

Romney seguiu para Gdansk sem que nada de novo tivesse para averbar a seu favor num esforço para angariar votos judeus e de evangélicos sionistas que se mostraram renitentes à nomeação de um mórmon.

Woody Allen vota democrata

O voto judeu nos Estados Unidos, 2% a 4% do eleitorado nas presidenciais, continua a pender para os democratas.

Até mesmo James Carter ao averbar apenas 45% do voto judaico, em 1980, conseguiu mais 6% do que Ronald Reagan (que somou 51% no escrutínio global), indo o resto para o independente John Anderson.

Em 2004, o perdedor John Kerry teve 76% dos votos judaicos contra 24% para Bush e Obama chegou aos 78% diante os 22% obtidos por McCain.

Na Flórida, uma eventual oscilação significativa no voto judaico poderá selar o destino das presidenciais, mas a última sondagem "Gallup", mesmo indicando uma quebra na intenção de voto de judeus nos democratas – motivado essencialmente por questões relativas a economia e cuidados de saúde –, continua a dar vantagem a Obama (68% vs. 25% para Romney).

Independentemente das divergências políticas entre a Casa Branca, o governo israelita e os grupos de pressão que o apoiam não será, salvo evento excepcional, o voto judeu a desequilibrar a votação de Novembro que se anuncia difícil para Obama.

Todos os votos contam

Para ganhar a comunidade de origem polaca -- cerca de 3% da população com maior concentração em Nova Iorque, Illinois, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin – os discursos de Romney na Polónia de pouco adiantaram.

O candidato teve o apoio de Lech Walesa e louvou um fantasmático exemplo polaco de governo limitado e dinamismo empresarial privado, deixando críticas veladas a Obama por menosprezar Varsóvia a favor de entendimentos cínicos com Moscovo, o inimigo estratégico número um.

Illinois e Nova Iorque estão entre os estados cativos para Obama e o eleitorado de origem polaca -- 44% auto-intitulam-se conservadores, mas 36% identificam-se com os democratas, 33% declaram-se independentes e 26% republicanos, segundo um estudo de 2010 do "Instituto Piast", de Hamtrack, Michigan -- só poderá contar para Romney se a situação económica se deteriorar ameaçando a vantagem que as sondagens dão a Obama no Wisconsin, Pensilvânia e Michigan.

Nas últimas eleições, Obama conseguiu 52% do voto do eleitorado de origem polaca.

Quando Obama se fez ao mundo prometia a ruptura com uma administração republicana fustigada por anos de guerra e entre ilusões acerca de uns EUA com uma presença no mundo radicalmente diferente.

O antigo governador do Massachusetts fez-se ao mundo sem que aparentemente tenha ganho qualquer trunfo para galvanizar sequer as bases republicanas apesar de uma conjuntura económica desfavorável ao presidente democrata.
Jornal de Negócios
01 Agosto 2012

Sem comentários:

Enviar um comentário