sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O yuan aos milhões perto de si

A China vai vender pela primeira vez no mercado de Hong Kong obrigações do tesouro em mais um passo para a convertibilidade e internacionalização do yuan, que vai fazendo o seu caminho à custa do dólar.

A oferta de obrigações, no montante de 6 mil milhões de yuans (879 milhões de dólares), a colocar a 28 de Setembro para compra por instituições e particulares, apesar de pouco representar num total de 950 mil milhões de yuans (139 mil milhões de dólares) a emitir por Pequim este ano, é um meio essencial para a criação de produtos de investimento na moeda chinesa em Hong Kong.

O plano para transformar a antiga colónia britânica no principal centro "off shore" para a moeda chinesa começou a tomar forma há dois anos quando cinco bancos estatais foram autorizados a emitir obrigações em yuans no mercado de Hong Kong.

Em Julho, empresas de Xangai e da província de Guangdong obtiveram, por sua vez, luz verde para realizar transacções comerciais em yuans com as Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e Macau e os dez estados da Associação das Nações do Sudeste Asiático.

Internacionalizar o yuan
Pequim está a negociar com Brasília um acordo para impulsionar o comércio bilateral assente nas moedas nacionais, à semelhança do programa já estabelecido com a Argentina, e efectuou empréstimos em yuans à Indonésia, Malásia e Coreia do Sul.

A estratégia de internacionalização do yuan passou, também, pela concretização na semana passada da subscrição de 32 mil milhões de Direitos Especiais de Saque (DES) do FMI (equivalentes a 50 mil milhões de dólares), no âmbito do acordo do G20 de Abril para duplicação das reservas da instituição para 500 mil milhões de dólares, com os contributos da União Europeia e dos Estados Unidos e, eventualmente, do Brasil e da Rússia.

Pequim recorreu ao yuan para o aumento de capital do FMI, o que permitirá, nomeadamente, a países que obtenham empréstimos da instituição utilizarem a moeda chinesa para transacções comerciais com a China.

O Banco da China Lda., o terceiro maior do país, anunciava, por seu turno, no início deste mês ter recebido autorização das autoridades suíças para a sua unidade de banca privada, criada em Novembro em Genebra, gerir fundos de investimento em yuans, a par doutras divisas.

Menos dólares
Dos Estados Unidos chegavam em paralelo notícias de que o défice orçamental ultrapassou o trilião de dólares, cifrando-se em 1,27 triliões, a dois meses do termo do ano fiscal (30 de Setembro), enquanto o défice comercial continua a alimentar uma balança de pagamentos negativa, que obriga a injecções de capital estrangeiro na ordem dos mil milhões de dólares por dia para sustentar o valor da divisa norte-americana.

As cautelas de Pequim face aos riscos de inflação nos Estados Unidos e à depreciação do dólar levaram a China a reduzir este ano a exposição aos títulos de tesouro de Washington, mas ainda assim cerca de 60% dos 2.130 mil milhões de dólares das reservas chinesas em divisas é em moeda norte-americana.

A convertibilidade plena do yuan ainda está longe de se tornar uma realidade, mas os esforços de Pequim para internacionalizar a sua moeda seguem um curso bem definido.

As preocupações com a estabilidade do dólar obrigam a China a investir no aumento do papel do FMI como financiador internacional, reforçando a importância dos DES usados regular as transacções entre os 185 estados membros, ao mesmo tempo que promove o recurso a outras divisas, a começar pelo yuan, para reduzir o peso do dólar como moeda de reserva internacional.

Passo a passo, aguardando pela revisão dos direitos de voto no FMI, em que os 4% da China se confrontam com os 14% dos Estados Unidos, e a reformulação da partilha de lugares no comité executivo da instituição, Pequim tenta preparar um mundo em que o dólar tenha um peso cada vez mais reduzido.



Jornal de Negócios
15 Setembro 2009

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